As oficinas de teatro, grafite, pintura, dança e arte culinária, que originaram a mostra, são fruto do projeto “Arte e Expressão”, que nasceu de um convênio assinado entre a Subsecretaria de Atendimento às Medidas Socioeducativas (Suase) da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) e a Guignard em 2009. “Esta mostra é a prova da maturidade dessa iniciativa, tanto do ponto de vista estético, quanto da adesão dos adolescentes e da propriedade com que eles falam do assunto”, pontua o subsecretário de Atendimento às Medidas Socioeducativas, Ronaldo Araújo Pedron.
Desafio
Na avaliação do subsecretário o projeto, que será renovado por mais um ano, permite que habilidades sejam desenvolvidas, interesses se renovem e sentimentos, bons ou ruins, sejam canalizados. “Hoje, podemos dizer que a aposta que a Secretaria fez no viés da arte-educação foi acertada”.
A artista plástica Luana Mitre, coordenadora do projeto há um ano, se emociona ao percorrer as obras e relembrar as aulas, as falas dos jovens e todo o processo de construção dos trabalhos. Ela reconhece ter sido “desafiador” adaptar a filosofia da Guignard, calcada na liberdade de expressão, a esse público diferenciado.
De acordo com Luana, foi preciso muito cuidado na seleção dos educadores. Era preciso um carinho especial e um desejo de trabalhar com adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa. “Tem sido um aprendizado mútuo. O que mais vale a pena é a troca de experiências. Arte-educação é um processo onde o mais importante não é o produto final, mas sim a conquista da consciência crítica, da reflexão, do pensar sobre quem é você no mundo”, relata.
Descobertas
A adolescente L.S., de 16 anos, que cumpre medida no Centro Socioeducativo São Jerônimo, conta que está tentando descobrir do que gosta, para o que tem facilidade e o que a faz feliz. “Ainda não sei. Adoro dançar, estou mais solta. Antes eu ficava muito ‘na minha’, caladona. Agora me expresso melhor, estou mais calma, talvez mais perto de achar meu caminho”, conta.
Para outra adolescente, também de 16 anos, a decisão já está tomada. Ela conta que quer ser doceira profissional. A aptidão para os doces a menina descobriu durante as aulas de culinária, que confessa ter começado a fazer a contragosto. “Eu não queria. Achava que ia ser chato. Ia de cara fechada. Mas agora, estou adorando”, relembra.
Culinária
Já o jovem F.L, de 18 anos, relata que foi para a primeira aula com o professor Antônio Carlos, chamado de chef Nico, empolgado. Ele diz que sempre gostou dos “cheiros” que vinham da cozinha da mãe e, desde bem pequeno, ficava rondando, prestando atenção no que ela fazia quando estava às voltas com as panelas.
É o próprio professor que destaca que o jovem é um padeiro nato e até já está olhando emprego para ele. Nico elogia também C. M, 18 anos, que tem “mãos mágicas” para os temperos e molhos. E conta que I. B, de 17 anos, faz bolos e roscas como um veterano.
Como voluntário no ensino da profissão aos jovens, o professor conta que tem orgulho dos alunos. “Às vezes, quando algum está com vontade de contar sua história, paro tudo para ouvir. Não basta saber a técnica, é preciso que eles estejam equilibrados mentalmente, tenham boas noções de higiene e autoestima”, destaca.
Dança
Outro momento importante da abertura da mostra foi a apresentação da Dança Urbana. O professor Leandro Belilo conseguiu reunir no palco meninos e meninas em uma mesma coreografia, mesmo sem nunca terem ensaiado juntos. “Foi um desafio e tanto, mas valeu a pena. Os meninos estavam nervosos antes de entrar em cena, mas saíram com a autoestima lá em cima e isso é o que importa. Se a arte tiver o poder de mudar o quanto gostamos de nós mesmos, já cumprimos nosso objetivo”.