Todo mundo já imaginava que o cinema seria transformador, quando, no fim do Século 19, os Irmãos Lumière exibiram os 50 segundos do filme “A Chegada do Trem na Estação de Ciotat”. Esse poder de gerar reflexões e novos significados para a vida humana está sendo usado no projeto “Sócio Olhar: Educação e Cinema” da Escola Estadual Jovem Protagonista, instalada nos Centros Socioeducativos da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) em Belo Horizonte. Cerca de 150 adolescentes acautelados estão tendo a oportunidade de conhecer e aprender mais sobre a sétima arte.

Crédito foto: Omar Freire/ Imprensa MG

A ideia do projeto surgiu em 2013 depois que alguns professores do Sistema Socioeducativo foram convidados para participar de um curso sobre cinema na Faculdade de Educação (FAE), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A aproximação com o universo do audiovisual trouxe uma renovação de práticas dentro da sala de aula. Um dos desafios das escolas do Sistema Socioeducativo é justamente vencer a costumeira falta de interesse dos jovens pela educação. A linguagem cinematográfica se revelou um recurso importante para tornar mais atraente o processo pedagógico.

Mudança de comportamento

A primeira unidade a receber o projeto foi o Centro Socioeducativo Santa Terezinha, que logo de início percebeu uma mudança significativa no comportamento dos adolescentes, tanto em sala de aula quanto no dia-a-dia da unidade.

O retorno positivo fez o projeto alçar voos mais altos, sendo implementado em outros centros. De acordo com a professora de Língua Portuguesa, Josiane Felix, o cinema nas unidades antes era visto mais como um benefício recreativo, mas, na verdade tem outros poderes.

Crédito foto:Omar Freire/ Imprensa MG

“Quando eles pegam a câmera, eu, professora, sumo. Eles estão mais preocupados em enquadrar, descobrir, inventar. E então a gente consegue melhorar as questões da afetividade que são tão essenciais nas relações, principalmente para um estudante socioeducando. O que leva a uma aproximação com a educação”, observa.

As falas de adolescentes que participam do projeto confirmam essa percepção. “Gosto muito das oficinas. É tão diferente quando a gente filma... pensa no que vamos mostrar, qual áudio vai se encaixar. Por enquanto só sei o básico, mas espero evoluir nas aulas e quem sabe poder continuar a trabalhar com o cinema quando eu estiver lá fora”, diz um dos jovens.

De forma coerente com o objetivo de provocar mudanças comportamentais nos adolescentes, o projeto superou o repertório basicamente hollywoodiano tradicionalmente exibido nos centros.

“Nós oferecíamos antes para eles um fast food, sempre filmes apenas do sistema comercial. Agora eu trago pra eles um pouco daquele cinema clássico, como Hitchcock”, afirma a professora.

Desdobramentos do projeto

Além de proporcionar uma mudança dentro das escolas dos centros socioeducativos, o projeto também gerou atividades extramuros. Em uma delas, o Cine 104, adolescentes, agentes socioeducativos e docentes da escola puderam assistir sessões de cinema arte realizadas no Espaço 104, no Centro de Belo Horizonte.

O projeto também participou das duas ultimas edições da mostra de cinema CINEOP, em Ouro Preto, e foi convidado a integrar a ação nacional Inventar Com a Diferença: Cinema e Direitos Humanos, criado pelo Departamento de Cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF) juntamente com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

Crédito foto:Omar Freire/ Imprensa MG

 

Fundação Grupo de Estudos de Educação e Audiovisual

No final de 2014 foi criada a Fundação Grupo de Estudos de Educação e Audiovisual que abrange o projeto. Foram implantadas nesse primeiro semestre de 2015 as oficinas Fotografia, Minuto Lumière, Fotograma, Filmagem, Produção de Texto, Filme-carta, que entraram na rotina dos alunos da Escola Estadual Jovem Protagonista.

Crédito fotos: Omar Freire/Imprensa MG

 

Por Fernanda de Paula

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