Uma segunda chance pode surgir em uma situação em que tudo parece perdido. Para Grisellyd Taygla Alves, a prisão por tráfico de drogas parecia o fim da linha. Mas, depois de dois anos no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, em Belo Horizonte, Grisellyd ganhou duas bolsas de estudo integrais para cursar Direito, na UNA Betim e na Faculdade Anhanguera, graças à pontuação no Enem Prisional.
Com 614 pontos, a detenta se inscreveu no Programa Universidade Para Todos (ProUni) e foi contemplada. Mas essas não foram as únicas conquistas de Grysellyd com a nota do Enem. Em 2014, foi admitida no Curso Técnico de Mineração na Conhecer Escola Técnica, onde estudou por dois semestres. No mesmo ano, foi aprovada em Educação Física na Universidade Federal de Viçosa (UFV).
De família humilde, Grisellyd estudou em escola pública. Gostava de todas as matérias, mas as aulas de história sempre a atraíam mais. A escolha pelo Direito veio do interesse de entender os conflitos da sociedade. “Me identifico com o curso, quero continuar estudando e pesquisando na área e quem sabe poder me tornar uma professora de Ciências Políticas”, diz.
O apoio da família sempre foi essencial na vida de Grisellyd, filha única e mãe de três filhos. Ela afirma que seu maior arrependimento é não ter ouvido os conselhos da mãe. “Ela sempre quis o meu melhor e meu orgulho não me deixou escutar”, conta.
Agora, com a nova chance, Grisellyd diz que vai dar aos filhos outro exemplo de vida. “Meu sonho de vida é ver meus filhos crescerem com dignidade, respeitando as diferenças, para não passarem pelo mesmo sofrimento que eu estou vivendo.”
Outras presas da unidade foram aprovadas em instituições de ensino com a nota do Enem. Jocasta Menezes Generoso e Vanessa de Assis Gonzaga conquistaram uma vaga no curso técnico de Mecânica no Senai de Pedro Leopoldo, mas, infelizmente, por causa da distância, não poderão cursá-lo.
Do Enem Prisional de 2014 participaram 81 custodiadas da penitenciária. A maior nota nesse grupo foi 662,82. A penitenciária tem aplicado o Enem Prisional para suas presas desde a primeira edição em 2010. Em todo o estado 5.276 presos participaram da última edição da prova.
Escola Estadual Estevão Pinto
Fundada em 1954, a escola que funciona dentro da unidade prisional conta hoje com 148 detentas matriculadas. Além do Ensino Fundamental e Médio, a instituição oferta aulas na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em 2014, 78 custodiadas também participaram de cursos profissionalizantes, atingido a meta de 100% de profissionalização.
Foram ofertados os cursos de Recepcionista, pelo Ministério do Trabalho, Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (SEDESE) e Sindicato dos Empregados Técnicos que Trabalham como Analista de Sistema, Programadores e Operadores na Área de Computação no Estado de Minas Gerais (SETTASPOC-MG); Estética Corporal e Massoterapia pela Associação Mineira de Educação Continuada (ASMEC), e Costura e Artesão de Biojoias pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC).
Desde janeiro, a escola está intermediando uma parceria com o Centro de Educação Profissional (CENED), que oferta cursos profissionalizantes à distância através de material impresso. Atualmente, estão participando 38 internas, distribuídas nos cursos de Primeiros Socorros, Assistente Administrativo, Direito Constitucional, Direito Processual e Civil, Formação para Eletricista, Auxiliar de Advocacia Geral, Cuidador de Idosos, Gestão de Pessoas, Segurança do Trabalho, Higiene e Ergonomia, Formação para Recepcionista, Formação para Vendedora, Vigilância Sanitária, Direitos Humanos e Direito Previdenciário, dentre outros.
Atualmente, 6.356 presos estudam em unidades prisionais do Estado. Ao todo 108 escolas funcionam dentro de presídios e penitenciárias em Minas Gerais. Essas instituições são fruto da parceria entre a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) e a Secretaria de Estado de Educação (SEE).
Por Fernanda de Paula