Da cela para a passarela. Foi essa a rotina de Marcela Moreira Cagnani, vencedora do Miss Prisional 2016, nesta quinta-feira, 06.10. A detenta foi convidada pela grife mineira Doisélles, de Raquell Guimarães, para desfilar a coleção Outono-Inverno 2017, na 19ª edição do Minas Trend. Marcella usou um vestido preto de tricô que faz parte dos 18 looks apresentados pela marca na passarela do Expominas, ao som do cantor paulistano Criollo. Tal iniciativa vem destacar e fortalecer o trabalho da Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) para a humanização no cumprimento da pena e para a ressocialização de pessoas privadas de liberdade.

Antes de ser presa, Marcela era modelo de uma agência de Belo Horizonte, chegou a desfilar durante dois anos para marcas mineiras, mas nunca havia pisado no Minas Trend Preview. Para ela a participação no evento trouxe de volta lembranças dos tempos de liberdade. “Sou muito grata pelo convite, e não me caibo de felicidade, foi tudo lindo, o carinho, a recepção de todos. Fiquei um pouco nervosa na hora, mas me senti muito bem estando ali”.

Para Raquell, Marcela iluminou o desfile e foi o maior destaque. “A Seap me trouxe essa proposta, e eu a abracei com carinho. Foi ela que abrilhantou o desfile, porque a história da roupa todo mundo já sabe, já conhecem o design da Doisélles, mas a presença da Marcela foi o brilho maior”.

A inspiração da coleção, segundo a estilista, é a economia afetiva, a valorização de todos os processos da produção das roupas. “Eu quero dizer que essa economia criativa, que envolve processos de criação, tem que ter afetividade, que é cuidado e respeito aos processos, materiais e sustentáveis. Então a gente coloca esse amor, esse respeito no nosso processo produtivo, na nossa cadeia têxtil”.

Trabalhando a cidadania

A Doisélles é candidata a ganhar o Selo Trabalhando a Cidadania. A parceria entre a marca e o Sistema Prisional mineiro completa sete anos. Desde 2009 a Doisélles abraçou a cidadania e investe no trabalho de presos. Tudo começou em Juiz de Fora, quando a estilista levou o projeto Flor de Lótus para a Penitenciaria Ariosvaldo Campos Pires, ensinando presos da unidade a fazer tricô e crochê, iniciativa que perdura até hoje.

O subsecretário de Segurança Prisional, Washington Clark, esteve presente no desfile. Segundo ele, o selo é a materialização de uma ação social do governo que congrega o interesse da sociedade civil com a administração pública. “Queremos empresas com responsabilidades sociais, que invistam no que é mais importante, no respeito, e na capacidade das pessoas do cárcere, para trazê-las de volta ao convívio da sociedade. É importante dar novas chances com projetos edificantes que possam resgatar essas pessoas temporariamente privada de liberdade”.

Agora em 2016, Raquell se associou a Liberte-se, da empresária Marcella Mafra, que opera uma confecção no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto (Piep), em Belo Horizonte. Na oficina da Piep, 12 presas produziram as malhas que são o pano de fundo para o tricô e o crochê. “A dificuldade era fazer o look total da Doisélles. Agora, a marca incorporou a malha e deu corpo para esse tricô. Eu tinha um acessório, agora é uma marca dos pés à cabeça”, explica Raquell Guimarães.

Feliz pela possibilidade de ganhar o selo, Raquell ainda destaca que espera que tal iniciativa sirva de exemplo para outras empresas. “Temos que tirar o nosso preconceito em relação ao apenado, saber que o condenado, enquanto está na reclusão, apenas está privado da liberdade, mas não de nenhum outro direito, inclusive o direito de trabalhar”.

O Selo Social foi criado pelo governo do Estado este ano para reconhecer as melhores práticas de ressocialização de pessoas privadas de liberdade pela qualificação profissional e pelo trabalho. Essa é apenas a primeira etapa da avaliação. Atualmente, há 280 empresas parceiras da Seap e 14 mil presos trabalham.

Por: Fernanda de Paula

Fotos: Omar Freire / Imprensa MG

 

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