Um projeto inédito está mostrando um novo caminho para adolescentes que cumprem medida socioeducativa em Minas. A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), em parceria com a Academia de Letras do Brasil e a Secretaria de Estado de Educação (SEE), está incentivando a produção de textos, músicas e poemas entre os jovens, para transformar esse material em livro até o ano que vem. A ação começou com o lançamento do “I Festival Literário do Centro Socioeducativo de Justinópolis”, na terça-feira, 22.11. Durante a abertura, internos fizeram apresentação de dança, capoeira, leitura de poemas e jogral.
Professores da escola formal que existe dentro do Centro Socioeducativo de Justinópolis já estão realizando um trabalho de incentivo à escrita com os jovens. Eles também revisarão as produções, que serão enviadas para a Academia de Letras do Brasil para avaliação. Os jovens participantes do festival literário poderão se inscrever em uma das três categorias: “Versos e Rimas”, “Poemas e Poesias” e “Histórias”. Ao final da disputa, cada grupo terá três premiados.
De acordo com a diretora de Atendimento do Centro Socioeducativo de Justinópolis e idealizadora do projeto, Isabella Moreira, a ideia é que o incentivo à leitura, à escrita e à produção literária seja uma via de responsabilização dos adolescentes e, também, uma possibilidade de carreira para eles. “É o primeiro festival literário no Brasil que acontece dentro de um ambiente de privação de liberdade, voltado para esse público. Esses jovens são muito criativos. Se pelo menos um deles prosseguir nesse caminho da escrita, todo nosso trabalho e incentivo à produção já terá valido a pena”, contou Isabela.
João Lucas*, 16 anos, participante das oficinas, viu no projeto uma possibilidade de participar mais das atividades na unidade e se inscreveu. “Eu gosto de escrever músicas e está sendo muito bacana ter a ajuda dos professores na hora de colocar as ideias no papel”, contou. Em suas produções ele fala da realidade que vivia fora da privação de liberdade, de ostentação, e tenta levar uma mensagem de que o crime não compensa. “Espero que minha música possa ajudar alguém de alguma forma. Hoje eu sei que o crime não compensa, que a gente precisa acreditar nos nossos sonhos e nunca desistir deles”, concluiu.
Maurício Lima*, 17 anos, também acredita que as oficinas estão o ajudando a mudar o pensamento. “Eu gosto de escrever poemas. Sempre falo sobre a vida no crime, que ela não compensa. Ter a vida privada de liberdade é muito ruim e eu tento escrever mostrando que vale a pena querer crescer através do estudo e do trabalho. Ser alguém na vida”, disse.
Além dos adolescentes internados, servidores, familiares, agentes do poder judiciário e parceiros dos programas que acompanham as medidas socioeducativas também estão participando do festival. A diferença é que eles não frequentam as oficinas de produção. “Os profissionais fazem seus textos por conta própria e entregam para ser avaliados também. Existe uma comissão que organiza e reúne esse material, entregando para a avaliação da Academia de Letras do Brasil”, contou Isabella.
O diretor geral da unidade, Cosme Alves Damião, acredita que o projeto literário veio para marcar a história dos nove anos da unidade. Para ele, o incentivo à leitura, à arte e à educação é principal caminho para a ressocialização. “A gente percebe que quando os jovens se envolvem nas atividades há uma mudança de comportamento e vontade de construir uma nova história ao sair da privação de liberdade”, contou.
O festival termina no dia 15 de dezembro e, durante o encerramento, será realizado a entrega das premiações.
Parceria internacional
O presidente da Academia de Letras do Brasil, Helbert Pitorra, contou que a instituição viu na medida de privação de liberdade uma oportunidade de viabilizar oportunidades para que o jovem internado possa alçar novos voos através da escrita, literatura e expressão das ideias.
A Academia tem uma parceria com o Museu do Louvre, em Paris, e a expectativa é compilar o material produzido no festival para uma exposição no museu francês, ano que vem. “Nós acreditamos, enquanto acadêmicos, que qualquer transformação só é possível pela via da educação”, concluiu Helbert.
Matéria: Poliane Brandão
Fotos: Carlos Alberto/Imprensa MG