Cerca de 80 analistas sociais que atuam nos programas de prevenção à criminalidade da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) participam esta semana (30/9 a 2/10) da II Capacitação Temática do Programa Ceapa, com o tema “Gênero: A Construção de um Conceito”. O objetivo é ampliar a capacidade de diálogo e compreensão das situações que chegam diariamente na rotina dos atendimentos da Central de Alternativas Penais (Ceapa), programa do Governo de Minas, executado pela Subsecretaria de Prevenção à Criminalidade da Sejusp.
A maioria dos analistas presentes na capacitação trabalha na Ceapa que, dentre outras questões, atua no acompanhamento de homens em cumprimento de penas alternativas relacionadas à Lei Maria da Penha. No programa, os homens agressores participam de grupos de trabalhos temáticos com o objetivo de estimular mudanças de atitude e de comportamento a partir da reflexão de formas não violentas para resolução dos conflitos. Nos encontros, os atendidos falam das suas histórias de vida, de como se sentem antes e depois das agressões, quais são os comportamentos que eles acreditam que os motivam a cometer a agressão e, por fim, são convidados à reflexão.
Na palestra da manhã desta terça-feira (1/10), a coordenadora de Políticas Penais, Fabiana Dias, exaltou a importância das temáticas trazidas para os três dias de capacitação e que podem ajudar a desconstruir questões naturalizadas, além de fazer pensar um pouco além do habitual da rotina. “Muitos homens chegam aos grupos sem nem se dar conta da violência cometida. Por isso, precisamos capacitar nossos analistas para que eles tenham um arcabouço de ideias cada vez mais amplo para conseguir lidar com questões culturais que estão tão enraizadas pelos homens agressores”, explicou.
Analista social no Ceapa BH, Maria Virgínia Bispo parabenizou os organizadores pela escolha das temáticas e acredita que as palestras facilitarão, na rotina dos atendimentos, a condução dos diálogos de forma mais tranquila e bem embasada. “Essas capacitações realmente contribuem de forma impactante para o nosso trabalho. Nos ajudam a entender as diversas construções sociais, ampliam nosso olhar para as diversidades sociais, em geral nos possibilitando oferecer um acolhimento diferenciado e um trabalho mais qualificado”, afirmou.
Roberto Queiroz é analista social do Programa Mediação de Conflitos (PMC) e também lida quase que diariamente com a violência contra a mulher em seus atendimentos. Ele afirma que muitas vezes não tem repertório para responder a determinada questão apresentada durante o atendimento e “esse tipo de capacitação auxilia a ter um conjunto de respostas mais amplo para várias situações que vão além do óbvio”. O PMC também é um programa de prevenção à criminalidade executado pela Sejusp e atua em 34 comunidades do Estado.
Nos três dias de capacitação, os analistas estão ampliando o conhecimento relativo à história sobre gênero e teorias feministas; metodologia das abordagens realizadas pela Ceapa; comunicação não violenta e as possibilidades de discussão diante das múltiplas violências nas relações interpessoais; além da exibição do documentário “O Silêncio dos Homens” e debate sobre masculinidades.
A Ceapa
O programa Ceapa tem como objetivo contribuir para o fortalecimento e a consolidação das alternativas à prisão no Estado, pautando ações de responsabilização com liberdade. Nos municípios, a Ceapa se estrutura implantando Centros de Alternativas Penais compostos por profissionais com formação em Direito, Psicologia e Serviço Social, que trabalham de forma interdisciplinar.
As modalidades de alternativas penais desenvolvidas pelo programa são: prestação de serviços à comunidade; projetos temáticos de execução de alternativas penais por tipo de delito cometido (violência doméstica e intrafamiliar contra a mulher, drogas e trânsito); atendimentos individuais ou grupos reflexivos de responsabilização de homens processados e julgados no âmbito da Lei Maria da Penha; projetos no âmbito das medidas cautelares; projetos e práticas restaurativas.
Texto e foto: Poliane Brandão