Cortes, escovas, hidratação e limpeza de pele foram alguns dos atrativos do projeto  realizado por vinte e cinco alunas do curso de Cabeleireira e Estética da entidade Cidade dos Meninos de Ribeirão das Neves. Contrariando o clássico de Ataulfo Alves e Mário Lago em homenagem a uma Amélia “que não tinha a menor vaidade”, ao saber que também haveria  tratamento estético facial, dona Amélia, 54 anos e namorado de 39, foi logo levantando da cadeira: “Demorou. Tô indo pra fila!”, exclamou.

Para realizar o evento, o Núcleo de Prevenção à Criminalidade (da Seds) de Ribeirão das Neves contou com a colaboração de empresários do setor que doaram shampoos, condicionadores, cremes para tratamento facial, adstringentes, tônicos e esfoliantes. “Esta é a estréia do “Sempre Bela” e não imaginávamos que a aceitação de empresários e profissionais convidados para realizar o evento, fosse ser tão boa”, comemorou a psicóloga do NPC, Camila Regina Faleiro.

O sorriso largo de Ana Paula Gonçalves dos Santos, 23 anos, ficou ainda mais evidente enquanto seus cabelos eram hidratados. “Eu ia ao salão toda semana. Aqui uma cuida do cabelo da outra, mas não é a mesma coisa”, ressaltou a jovem que já teve fios na cintura e pontas tingidas de roxo, azul e vermelho. “Foi meu marido quem cortou, com a faca, em uma crise de ciúmes. Agora tô esperando ele crescer”, afirmou.

A direção da unidade dividiu o atendimento às detentas por alojamento. Hoje, cerca de 80 presas participaram do projeto e quem estava fora da programação mostrou ansiedade. Eliane Vieira, 33 anos, não resistiu e foi até a quadra onde estavam as cabeleireiras para “espiar” as atividades. Vaidosa, ela conta que frequentava salões de beleza duas vezes por semana. “Esta vai ser a primeira vez, em mais de um ano, que tenho a oportunidade de ser atendida por uma profissional. Esse projeto veio em boa hora estou com o cabelo todo quebrado de tanto fazer experiências com quem não entende do assunto. Amanhã quero ser uma das primeiras atendidas!”, declarou. 

Para as alunas, habituadas a treinar o que aprendem no Curso em asilos e escolas, a experiência foi significativa. “Cortei três cabelos, fiz cinco escovas e duas hidratações”, contabiliza, Edilaine Silva Costa. “No começo fiquei meio apreensiva. Depois, algumas até me contaram suas histórias de vida. Foi muito interessante”, completou.

A colega de curso, Maria Tercília Silva, se surpreendeu com o alto astral das detentas. “Achei todas muito alegres. Diferente das mulheres tristes e cabisbaixas que pensei encontrar”, admitiu.  A coordenadora do curso, Márcia Cristina do Nascimento, revelou que houve até lista de espera para participar do evento no presídio. “A receptividade delas foi além das nossas expectativas”, disse.


A diretora geral da unidade, Raquel Alves de Paula, ressalta que projetos como esse são fundamentais para resgatar a auto-estima das detentas. “A mulher encarcerada tem uma necessidade muito grande de atenção, de carinho. Esse dia de beleza é muito importante para o bem estar delas podendo provocar até uma mudança, uma melhora de comportamento”, afirmou.

A atitude da detenta Daniele Soares diante das cabeleireiras, avalizou a declaração da diretora. Com sintomas de depressão desde que chegou à unidade, há cerca de um mês, ela estava disposta a voltar para a cela quando ao ver a alegria e satisfação das outras detentas, resolveu: “Não vou. Quero cuidar de mim”. Nesta sexta-feira (06/03), outras 56 detentas devem ser atendidas pelo Projeto.

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