Todos os internos da unidade têm oportunidade de aprender, mas apenas aqueles que demonstram aptidão ou real interesse pelo instrumento permanecem. 

Para o auxiliar educacional Jorge Eduardo dos Santos, 24 anos, que dá aulas para oito adolescentes internos na unidade, a preferência pela música tem a ver com a letra, que diz muito sobre o relacionamento dos jovens com suas famílias. “Me adapto ao gosto deles. Conversamos muito, falamos das composições, interpretamos as letras e discutimos. Eles têm que absorver o que está por trás da música, que têm grandes significados, capazes de mudar os rumos da vida de uma pessoa.”

Jorge fala com conhecimento de causa. Ele revela o desejo de ver esses jovens se reinserirem na sociedade demonstrando comportamento bem diferente do que quando entraram na unidade socioeducativa. “Não tenho a pretensão de incutir neles valores e sim moldar os já existentes. Eu cresci num ambiente hostil. Meu tio foi assassinado por causa do tráfico de drogas, meu pai era alcoólatra, meus pais se separaram cedo, eu era pobre. A chance de eu ter entrado para o mau caminho era grande. Mas não. A música me levou para o lado certo, o lado do bem. Com a música quero ajudá-los a se tornarem seres humanos melhores”.

Um dos aprendizes, de 18 anos, confessa que seu principal objetivo em aprender a tocar violão é para conquistar mulheres. “É claro que as aulas ajudam a passar o tempo e a esquecer que estou aqui. Mas eu sei que quem toca violão tem mais facilidade para agradar as meninas. Por isso, estou me esforçando para aprender, e fica mais fácil com um professor como o nosso, que fala a mesma língua que a gente”.
 
Outro aluno, de 17 anos, chegou a apostar um violão com Jorge, caso se saísse bem nas lições e aprendesse a tocar o instrumento com desenvoltura. “Pode ter certeza que o violão já é meu. Estou aprendendo rápido e me dedicando muito. Não vou desperdiçar a oportunidade que estou tendo aqui.”

O método

O professor, que é músico autodidata, preocupa-se em ensinar aos alunos um pouco de método e teoria musical. “Aprender um instrumento é caro e difícil. Mas explico à eles que não tenho a intenção de formar, aqui, músicos ou artistas. Quero apenas despertar neles o interesse pela arte, que mudou tanto a minha vida e, com certeza, pode mudar a deles.”

Para Jorge, muitos dos garotos já chegam ao centro socioeducativo com um senso musical apurado. Mas, segundo acredita, é preciso adequar-se à ânsia natural que os adolescentes têm de aprender rápido e logo sair tocando. Por isso, o professor desenvolveu um método próprio, que envolve jogos e desenhos para completar o material didático tradicional.

Na apostila do curso é possível aprender sobre a história do instrumento, cifras, quadro de intervalos e símbolos, pestanas, tons, tablaturas, acordes e técnicas. E, além disso, o professor exige postura: “Não pode se sentar de qualquer jeito, pegar no instrumento de qualquer maneira. É preciso ter postura e toda uma educação e respeito para manusear o violão e tocá-lo”, ensina.

Documento de cidadania

Outras ações têm sido desenvolvidas na unidade, que tem como foco promover a conquista da cidadania por parte desses jovens. Como exemplo, foram emitidas, nos últimos dias, um total de 24 carteiras de trabalho em parceria com o Ministério do Trabalho.
 
Houveram  16 alistamentos militares em parceria com o Exército e seis solicitações para expedição de Certidão de Nascimento, em parceria com o Centro de Atenção ao Cidadão, da Prefeitura Municipal de Juiz de Fora. “Queremos exercitar a cidadania, a identificação e a construção de um lugar diferenciado. Um documento é capaz de elevar a autoestima.Tem muito peso, eles se sentem mais gente, mais esperançosos de conseguir um futuro melhor”, disse a diretora de Atendimento, Maria
 
Todos os adolescentes acautelados no Centro Socioeducativo de Juiz de Fora fazem atividades escolares. Os internos freqüentam a escola formal  e há reforço escolar para os internos provisórios. Além disso, são oferecidas aulas de artesanato, assistência religiosa e espiritual e atividades esportivas.
 
A unidade possui, ainda, assistentes sociais, advogada, psicólogos, pedagoga, dentista e enfermeira. “O que fazemos em benefício de nossos adolescentes não consiste em medidas paliativas, mas sim em ações que se somam ao crescimento deles. Ao educarmos essas pessoas, não olhamos somente para a formação profissional, mas para a formação que leva à cidadania, ao desenvolvimento do lado social, intelectual e da sensibilidade”, ressaltou o diretor-geral da unidade, Alexandre Corrêa Rocha.

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