Conforme relato da professora de Língua Portuguesa Conceição de Lima Pereira, o aluno é muito interessado pelos estudos: “Às vezes suas dúvidas vão até além do conteúdo ministrado. Ele realiza todas as atividades que lhe são propostas e mostra muito interesse pelos livros, o que pode ser comprovado pelas várias fichas de leitura arquivadas na biblioteca”, contou. Para o adolescente, a conquista é resultado de pesquisas, planejamento e, claro, muita leitura. “História, gramática, Almanaque Abril, livros da biblioteca da unidade sobre literatura nacional e internacional, leis, códigos, revistas de atualidades. Estou me preparando para o futuro, pois quero fazer vestibular para Letras e Direito”.
Quando soube que o tema escolhido para o ano era “Condições de trabalho decentes podem levar a uma vida melhor”, ele não hesitou em relatar sua própria experiência de vida, ou melhor, a de seus pais. A premiação, que garantiu ao participante um som portátil com CD, MP3 e rádio AM/FM, nem de longe é capaz de pagar pela alegria de receber um certificado: “Para mim, é motivo de muito orgulho e vai me fazer lembrar dessa conquista para sempre!”, ressaltou.
O texto, direcionado a um “querido amigo”, fala de um certo catador de papelão que, mais tarde, o adolescente revelaria ter sido seu pai. Em trecho da carta, um senso de realidade muito aguçado mostra as condições do trabalhador informal: “Sem segurança nenhuma, sem décimo terceiro, sem carteira assinada, sem plano de saúde, sem salário digno e, principalmente, sem reconhecimento como profissional decente”. Mais à frente, o adolescente conta a história da mãe, que era diarista e hoje é doméstica com carteira assinada: “Tantas vezes ela chegava cansada do trabalho, estressada (…) havia alguns que pagavam pouquíssimo, exploravam sua condição de pobreza. Hoje ela chega alegre, pois é valorizada, tem carteira assinada e todos os seus direitos, e as pessoas da família onde exerce sua função a respeitam e têm muita satisfação em tê-la como funcionária de seus lares”, escreveu.
Outras passagens do texto merecem destaque e demonstram um adolescente consciente do princípio da igualdade social: “Todas as profissões são dignas e merecem que seus trabalhadores tenham direitos, que esses direitos sejam respeitados por toda a sociedade. Tanto um catador de papelão como um doutor são importantes nas suas funções, realizam trabalhos necessários”. Ele encerra a carta esperando que o interlocutor tenha entendido suas reflexões sobre “as condições favoráveis de trabalho que sabemos, por experiência, o quanto são importantes para uma vida melhor, saudável e feliz de todo trabalhador e, consequentemente, para um Brasil melhor”.
Ressocialização
O subsecretário de Atendimento às Medidas Socioeducativas (Suase) da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), Ronaldo Araújo Pedron, acredita que os méritos da conquista são fruto de um duplo esforço do adolescente e da escola. “Essa parceria da Seds com a Secretaria de Estado de Educação, que leva um ensino de qualidade para dentro das unidades, faz com que as potencialidades dos socioeducandos sejam fomentadas e incentivadas. O trabalho desenvolvido, que envolve cultura, esporte, lazer e formação, é capaz de despertar o senso de cidadania nos jovens, dando espaço e oportunidade para que talentos e aptidões aflorem. O caso desse adolescente é um exemplo”, destacou.
Para a assessora de Responsabilidade Social dos Correios, Marilda Rodrigues Silva, o resultado do concurso causou-lhe grande satisfação. Primeiro, por se tratar de um aluno de escola estadual, o que mostra que o ensino público está bem melhor. Segundo, por se tratar de um adolescente que cumpre medida, o que revela que o ensino levado para dentro dos centros socioeducativos é de qualidade. “Isso mostra à família e à sociedade em geral que ele é um vencedor, capaz de vislumbrar novos horizontes e de dar a volta por cima, construindo uma nova história de vida através do conhecimento e da educação”.