Trabalhou numa oficina mecânica em troca de comida, morou nas ruas, passou fome e enfrentou dificuldades e, por fim, se envolveu com drogas. Há cerca de dois meses, com a ajuda da assistente social, Lílian Alves, do Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp-BH), onde estava detido, a historia do rapaz começou a mudar. Ele conseguiu identificar uma mulher, até então considerada somente homônima de sua mãe “Osvaldina Alves Gomes”, que morava em Niterói no Rio de Janeiro.

Cheio de esperança, Daniel escreveu uma carta onde, com humildade, perguntava: “Gostaria de saber se você é minha mãe. Mas, se não for, me desculpe”. Osvaldina conta que, mesmo antes de abrir o envelope, ficou trêmula e com taquicardia. “Meus Deus! Seria possível?”, lembra ela. Toda a família (Osvaldina é casada há 15 anos com José Gonzaga) se reuniu na sala da casa para ler o que estava escrito na correspondência. “Sou semi-analfabeta. Consigo identificar apenas algumas palavras. Quando minha filha terminou a última frase, ficamos de mãos dadas, em silêncio, durante uns cinco minutos. Não havia dúvida de que era ele”, conta.

Lembranças

Doméstica, diarista e cozinheira “de forno e fogão”, 55 anos, Osvaldina é natural de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha. Ela conta ter deixado Daniel, então com 9 meses, com uma mulher que se dispôs a tomar conta dele mediante o pagamento de uma quantia mensal. Outra filha, então com dois anos, ela entregou para uma tia tomar conta, enquanto se estabelecia no Rio de Janeiro. “Tinha arranjado um bom emprego. Dois meses depois quando voltei para buscar as crianças, encontrei a casa dessa mulher fechada e ninguém tinha notícias de seu paradeiro. Fui embora muito triste, apenas com a menina, mas pensando que talvez aquela senhora tivesse feito isso por amá-lo demais. Foi uma forma de me consolar”.

Daniel relata não ter qualquer lembrança dessa pessoa que o separou de sua mãe. Todas as memórias de seu tempo de menino são do orfanato. “Saí de lá porque queria conhecer o mundo e encontrar minha mãe. Me sentia preso, só no mundo, sem rumo, sem nenhuma referência”, conta. O encontro entre mãe e filho começou, de fato, a ser delineado no presídio de Bicas II para onde o detento foi transferido há um mês.

A diretora de ressocialização, Ana Ferreira, acompanhou as trocas de correspondências entre os dois e a confirmação do parentesco veio numa das cartas onde Osvaldina informava o nome de sua mãe e este era o mesmo que consta no registro de Daniel no campo “avó materna”. “Fiquei sensibilizada com a história e programei uma “visita assistida” como, normalmente, fazemos nesses casos especiais. É uma forma de contribuir para a ressocialização do detento”, explica.

Ontem, antes do encontro com o filho, Osvaldina lutava para lidar com um turbilhão de sentimentos como medo de rejeição, culpa, saudade e ansiedade. Esfregando as mãos umas nas outras e secando as lágrimas no rosto cansado, ela dizia ter passado toda a vida pensando se seu filho estaria vivo ou morto e sonhando com a presença dele em casa.
 
Recomeço

detento capa.jpgFinalmente, o abraço entre os dois foi longo e apertado. “Quero que ele sinta todo o meu amor de mãe. Te amo filho, como você é bonito”, repetia. Indagado sobre se já havia perdoado a mãe, Daniel, demonstrando resignação e sabedoria, disse não ter o que perdoar. “Há coisas na vida pelas quais temos que passar. Eu é que peço perdão a ela pelas coisas erradas que fiz, por estar cumprindo pena em um presídio”, falou.

Após a emoção do encontro, ele disse que planeja quitar sua dívida com a Justiça e começar, de fato, uma vida diferente. Ele conta que agora tem muitos motivos para se retomar seus planos. Além de mãe, ganhou dois irmãos, Alessandro e Adriana; tios, tias, primos e primas. “Durante um bom tempo, fiz tratamento psicológico para suportar o fato de não ter ninguém no mundo, não saber de onde vim ou quem eu era. Acabou o pesadelo”, falou.


Daniel foi preso pela primeira vez em 2007, por furto e assalto à mão armada. Condenado a cinco anos e quatro meses em regime semi-aberto, cumpriu dois anos e seis meses, recebendo o benefício do regime aberto. Meses depois, foi novamente detido com uma pequena quantidade de droga, e condenado a oito meses.

O diretor-geral do presídio de Bicas II, Ildeu de Araújo Soares, informou que solicitará a um assistente técnico que verifique a situação jurídica do rapaz, para dar a ele uma perspectiva de quando poderá receber o alvará de soltura. “Esta é uma situação inusitada, que me deixou muito feliz. Em 23 anos de sistema prisional, nunca tinha visto cena tão emocionante. Torço para que este rapaz reconstrua sua história a partir desse encontro”, declarou.
 
 
i_videoc.gifEmoção no reencontro de mãe e filho em Minas Gerais
 
 
 

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