Do vermelho para o branco, assim tem sido a manhã de 15 presos do Complexo Penitenciário Nelson Hungria (CPNH), em Contagem, que trocam o uniforme da Suapi pelo da Chipista, fornecedora de espetos de carne para churrasco. Instalada na unidade há quase dois meses, a nova estação de trabalho monta por dia cerca de 2.000 espetinhos de medalhão, filé e coração de frango, alcatra e contrafilé bovino. A carne chega em peças que são cortadas e espetadas pelos detentos.

Com mais de 30 anos de experiência no segmento de espetinhos e de serviço de buffet, a Chipista procurou a direção do CPNH no fim do ano passado e passou a negociar a instalação da frente de produção na penitenciária. Gerente destacado pela empresa para conduzir a experiência na CPNH, Daniel Henrique de Almeida, diz que a Chipista já planeja dobrar a produção com mão de obra de presos por causa dos bons resultados. Mas não é só por isso. Segundo ele, a empresa está gratificada por estar contribuindo na ressocialização de condenados.

“Assim que eu entrei aqui pela primeira vez, vim carregado daquela barreira de preconceito, que infelizmente a vida lá fora cria em nós. Mas tudo caiu por terra quando descobri como é de verdade. Eu venho alegre trabalhar por ver essas pessoas aproveitando uma oportunidade que demos a elas”, diz Daniel.

A diretora de Atendimento e Ressocialização da penitenciária, Magda Andrade Neves, destaca a importância de construir parcerias com empresas comprometidas com a ressocialização e dispostas a realizar um projeto duradouro na unidade prisional. Atualmente, há 13 parcerias desse tipo ativas na penitenciária, em que trabalham de forma remunerada 372 sentenciados. Já em trabalho não remunerado, principalmente no artesanato, há cerca de 600 presos.


“Ter uma ocupação cria uma rotina saudável para os presos. O trabalho mostra para eles que há outras possibilidades, além do crime. Tivemos muito presos aqui que trabalharam nas parcerias e quando saíram continuaram a fazer a mesma coisa por conta própria. Encontraram outra ocupação pra vida deles”.

Os 13 primeiros detentos aprovados pela Comissão Técnica de Classificação (CTC) para a parceria com Chipista começaram a trabalhar antes mesmo da inauguração, limpando e pintando o galpão. Já na linha de produção, são cinco etapas: cortar, temperar e espetar a carne, fatiar bacon e, por fim, embalar os espetos. Com pouco mais de um mês de trabalho, alguns presos já se destacam na execução das tarefas. Dentre eles está Fabrício Marques Gonçalves, de 35 anos.

“Dá muita satisfação receber elogios, saber que estamos fazendo tudo certo. Desde os primeiros treinamentos, prestei muita atenção nas explicações e tentei absorver tudo para aplicar corretamente depois. Ter uma ocupação nos nossos dias, e aprender um novo ofício, é muito bom, nos estimula a dar sempre o nosso melhor. O que também irá ajudar outros presos, já que a intenção da empresa é expandir o negócio, e através do nosso empenho e esforço, outros também terão oportunidade de trabalhar aqui” afirma Fabrício.

Por Fernanda de Paula

Créditos fotos: Carlos Alberto/ Imprensa MG

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