Eles trabalham lado a lado. No chão de fábrica do Grupo SA, em Ribeirão das Neves, no Território Metropolitano, são 48 presos da Penitenciária José Maria Alkimin e 140 empregados com carteira assinada na linha de montagem de gôndolas para supermercados e porta-paletes de aço, graças a uma parceria entre a empresa, a maior do ramo no país, e a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap).
Antes de começarem a trabalhar, os detentos passam por treinamento, em que recebem também orientação sobre as normas internas da empresa e relacionamento interpessoal. A SA também se responsabiliza pelo transporte, de ônibus, entre a penitenciária e a fábrica. A jornada de trabalho é de oito horas diárias. A remuneração dos presos é de três quartos do salário mínimo e remição de pena – desconto de um dia a cada três trabalhados.
O responsável pela área de recursos humanos do Grupo SA, Natan de Sá, diz que, para além do bom desempenho e comportamento dos detentos no trabalho, a direção da empresa vê a iniciativa como um projeto de responsabilidade social de sucesso. “Promovemos valorização do ser humano por meio da convivência social, com respeito mútuo, e dignidade pelo trabalho”, explica.
A maioria dos presos teve na SA Gôndolas a primeira experiência de trabalho formal. Três deles, por sinal, ganharam da empresa, assim que obtiveram o livramento condicional, a primeira assinatura na carteira de trabalho. ‘Um orgulho para nós”, afirma o gerente de produção da fábrica, Moacir de Jesus.
O trabalho
Admitido na SA em fevereiro, o preso Robson Oliveira, de 40 anos de idade, diz que o tratamento respeitoso recebido dos colegas de fábrica foi um grande estímulo para mudar de vida. “Quando minha cabeça estava no crime, só pensava em fugir. Hoje, vou e volto tranquilo no ônibus, pensando num futuro melhor”, conta Robson.
Ampliação de horizontes
Atualmente, 75% da lotação do Complexo Penitenciário José Maria Alkimin são de presos do regime semiaberto, fase em que podem obter autorização judicial para trabalhar e estudar fora. O diretor-geral da unidade, Reginaldo Soares, acredita que parcerias como a da SA são vitais para o ressocialização desses condenados que estão mais perto de voltar ao convívio social.
A juíza da Vara de Execuções Penais de Ribeirão das Neves, Miriam Chagas, diz que procura manter um diálogo constante com as unidades prisionais da comarca para ampliar o número de condenados com trabalho externo. “A redução do ócio no cumprimento da pena vai produzir frutos quando o preso ganhar a liberdade”, explica.
Por Dayana Silva
Fotos: Carlos Alberto/Imprensa MG