São várias as opções oferecidas aos adolescentes, para que eles escolham as atividades com as quais têm maior afinidade, com a chance de mudar de vida por meio da arte, da educação, do esporte e da profissionalização. Um dos internos, de 13 anos, não esconde a satisfação de ter a agenda cheia: ir à escola, jogar bola, pintar quadros e ajudar na padaria, onde funciona o projeto “Milagre do Pão”, vencedor do Prêmio Qualidade da Atuação do Sistema de Defesa Social em 2007. O local dispõe de todos os equipamentos necessários para a produção dos alimentos, atendendo às exigências da Vigilância Sanitária. Biscoitos, pães, tortas, salgados, bolos de aniversário e doces são alguns dos itens produzidos. Com esse aprendizado, os jovens ampliam a chance de conseguir sua futura inserção no mercado de trabalho.

A profissional Maria Cleunice Lima, que já foi dona de padaria, ensina o ofício, alertando os adolescentes para a importância dos hábitos de higiene, o perigo de contaminação e as propriedades nutricionais dos produtos. “Explico que as mãos devem ser higienizadas com escova, que precisam cortar sempre as unhas, não usar pulseiras ou cordões, estar sempre com luvas descartáveis e saber usar com segurança os aparelhos eletrodomésticos”.

Outro projeto, que conta com a parceria de alunos do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG, orienta os adolescentes para o cultivo orgânico de hortaliças e plantas medicinais. Os produtos colhidos na horta são servidos nas refeições da instituição e também vendidos para os funcionários e à comunidade. O dinheiro é usado na compra de sementes e ferramentas para manutenção da horta.

A educação também é um ponto forte da unidade. Além da escola formal, frequentada por todos os internos, o Centro faz parte do projeto Banco de Leitura, composto por uma pequena biblioteca itinerante, organizada em banquinhos de madeira que, ao serem virados, acomodam uma série de livros. Os adolescentes também fazem a restauração de obras, aprendem noções de marcenaria e desenvolvem o hábito da leitura e da escrita.

Um jeito de formar cidadãos

O diretor-geral da unidade, José Pinto, destaca que o esporte é um elemento de grande motivação para os internos. Ele conta que em 2007 o time de futsal foi a São Paulo disputar os jogos da Fundação Casa e voltou com a taça de campeão. “Eles venceram todas as partidas contra times do Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo. Vimos que alguns meninos tinham aptidão para se darem bem no esporte”, frisa.

Nessa ocasião o diretor de segurança, Josedeth Guimarães, teve a idéia de colocar o projeto no papel e depois transformá-lo em realidade com o “Descobrindo Talentos – Educando pelo Esporte”. Adolescentes do centro passam por testes de aptidão esportiva, sob a coordenação dos técnicos e professores do Funorte Esporte Clube. Semanalmente, são realizadas partidas entre o time da unidade e a categoria de base do clube, quando os “olheiros” observam aqueles que, segundo eles, “levam jeito pra coisa”.

Para Guimarães, trata-se de importante oportunidade de integrar socialmente esses jovens com a comunidade. “Os jogos dão a eles uma visão de normas, regras e disciplina”, avalia. Um adolescente de 19 anos, ex-interno da unidade, integra a categoria de base da Funorte há quatro meses. “Eu me afastei do crime. Agora, penso em jogar profissionalmente e ser uma pessoa melhor”, diz.

Outro depoimento vem de um jovem considerado o “craque” da unidade. Ele já jogou no América mineiro e no Santa Tereza: “Voltei com força total para o esporte. Comecei bem e dei uma escorregada. Agora, quero correr atrás do tempo perdido e mostrar o meu potencial”, diz.

Projeto África

A grande surpresa do Centro Socioeducativo de Montes Claros está no desenvolvimento das atividades artísticas. O carro-chefe é o Projeto África - uma abordagem da cultura africana, vencedor, em 2008, do Prêmio Qualidade da Atuação do Sistema de Defesa Social.

Máscaras, esculturas, fantasias, estandartes, oratórios e quadros de motivos religiosos adornam a parte administrativa da unidade e dão a ideia do trabalho desenvolvido.O projeto é voltado também para a música, as artes visuais e cênicas e a literatura.

Segundo o oficinista Olívio Rocha, as aulas despertam sentimentos novos nos jovens. “Considero a arte um instrumento de tensão. O indivíduo busca algo no seu íntimo e tenta se expressar. Quando consegue passar isso para tela, eles sentem muito orgulho ao descobrir o artista que existe dentro dele”.

Os jovens fazem também a releitura de obras como “Os Girassóis”, de Van Gogh, “Guernica”, de Picasso, “O Touro” e “O Abaporu”, de Tarsila do Amaral, que revelam
a interpretação diante das pinturas famosas.

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