Pedro Paulo garante que a escola mudou a sua vidaComo todo adolescente, Pedro Paulo tem a cabeça repleta de sonhos e anseios. No entanto, as realizações ficaram mais distantes para esse rapaz de 17 anos de idade, quando, há dez meses, entrou no Centro Socioeducativo de Justinópolis para cumprir uma medida de internação determinada pela Justiça, por envolvimento com o tráfico de drogas. Foi privado da convivência com os amigos e a família. Em compensação, o Sistema Socioeducativo lhe restituiu algo precioso que havia perdido, por abandono, dois anos antes: a escola.

Com uma defasagem de cinco anos entre série e idade, Pedro Paulo se destacou como aluno do 7º ano do Ensino Fundamental da escola que funciona dentro da unidade. A instituição atende 98 alunos, distribuídos em 18 turmas do 2º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. Para as professoras, Pedro Paulo é um aluno exemplar, de determinação e disciplina admiráveis.

No período da manhã, o adolescente frequenta o ensino regular e, à tarde, não perde as reuniões de orientação estudantil e as diversas oficinas de capacitação oferecidas por meio das Ações de Educação Integral, da Secretaria de Estado de Educação (SEE).

Pedro faz parte das estatísticas que comprovam que as taxas de evasão escolar nos centros socioeducativos de Minas Gerais são mais baixas do que as das instituições congêneres de outros estados e até mesmo das demais escolas públicas mineiras.

Segundo Marinete Azevedo, diretora da escola da unidade de Justinópolis, contribui para isso o fato de os alunos dos centros socioeducativos estarem inseridos em um mesmo contexto social e educacional, geralmente com defasagem entre a idade e a série. “A maioria destes jovens veio de um mundo de violência e tolhimento e acabou enveredando na criminalidade. Aqui nós conseguimos tocá-los. Somos agentes de transformação”, afirma a educadora.

Vida nova

Pedro Paulo quer se tornar um sushiman reconhecido. A predileção por gastronomia não é por acaso. O pai do rapaz é chef de cozinha e grande incentivador do sonho de Pedro Paulo. “Quando eu sair daqui, quero continuar estudando e curtir a minha família. Quero ser um filho que nunca fui”, promete o jovem. Ele conta que as oportunidades oferecidas pelo Centro Socioeducativo de Justinópolis são muito importantes para aqueles que querem recuperar o tempo perdido. “Quem desperdiçou tempo lá fora, pode recomeçar aqui. Procuro aprender tudo que posso”, diz.

Oportunidade para estudar e realizar atividades extracurriculares é o que não falta na unidade. Lá os adolescentes que cumprem medidas têm acesso a laboratório de informática, biblioteca, sala de vídeo e oficinas de origami, capoeira, futebol, pulseiras artesanais e relógios de parede feitos a partir de frigideiras e papel de revistas. Além disso, os alunos também participam das orientações pedagógicas, que incluem reforço escolar.

Oficina de relogios feitos a partir de frigideiras

Cada unidade escolhe as oficinas de acordo com o perfil dos acautelados. A escola é um dos eixos do cumprimento da medida socioeducativa que, associada à participação familiar, ao esporte, cultura, lazer e profissionalização, auxilia na ressocialização e recuperação do menor em conflito com a lei. O ensino em período integral, que trabalha a educação de uma forma mais lúdica por meio das oficinas, diminui o tempo ocioso dos adolescentes dentro da unidade, que são encaminhados para os alojamentos apenas no período noturno.

Por trás dos muros

Além de uma formação escolar mais rica, o ensino integral proporciona um ambiente social saudável para os adolescentes, compensando, em certa medida, o escasso contato com a família. Quem confirma é a mulher que, na antessala da diretoria geral da unidade, aguarda ser chamada. Ela lamenta as dificuldades para visitar o filho. Moradora da zona rural do município de Araponga, a 260 km de Belo Horizonte, ela conta que a última vez que viu o filho foi há dois meses. Alega falta de tempo, mas também de dinheiro, tendo que se valer da ajuda do serviço de assistência social da Prefeitura de Araponga, suficiente para uma única viagem mensal a Ribeirão das Neves. Ela se diz confortada, contudo, de ver o filho na escola.

Histórias como estas se repetem. Muitos jovens passam mais de quinze dias sem ver os familiares. Augusto Oliveira, de 15 anos, ainda terá mais de um ano de cumprimento de medida socioeducativa na unidade. A família está no município de João Monlevade e, segundo ele, estudar e participar das oficinas ajuda o tempo a passar mais rápido. “Gosto da oficina de origami. Prefiro estar aqui aprendendo alguma coisa a ficar dentro do alojamento”, relata o adolescente que cumpre medida de internação por homicídio.

Oficina de Origami faz parte das atividades desenvolvidas no segundo turno

O mesmo acontece com o jovem Rodrigo Alves. Aos 19 anos ele já é pai de um bebê de um ano. Mas a privação da liberdade ainda não lhe permitiu conhecer o seu filho. O jovem passa algumas tardes em meio a revistas, cola, frigideiras e papéis de decupagem participando da oficina de fabricação de relógios de parede. Para ele, a arte é uma oportunidade para aprender a fazer coisas novas e pensar positivamente sobre novas oportunidades.

*Os nomes dos adolescentes foram alterados para manter a sua identidade preservada.

Por: Flávia Lima

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