Mesas, barcos de madeira, tapetes, panos de prato, mandalas, casinhas para cachorro, baús e armários planejados. Esses foram alguns dos itens vendidos a preços acessíveis, no subsolo da Cidade Administrativa, durante a feira “Mãos que Criam”. As peças variam de 20 a 500 reais, dependendo da matéria-prima utilizada.

Servidores do corpo técnico e de humanização de três unidades prisionais trouxeram as peças produzidas por presos. A ação é parte da Semana de Acolhida do projeto reIntegra C.A, que vai oferecer a 54 pré-egressos do Sistema Prisional vagas de trabalho na sede administrativa do Governo de Minas.

Há dois anos, depois de perceber a dificuldade que os parentes tinham de escoar a produção dos detentos, a Secretaria de Administração Prisional (SEAP) criou a “Feira Mãos que Criam”. Para a subsecretária de Humanização do Atendimento, Emília Castilho, “a feira aumenta a autoestima dos indivíduos privados de liberdade e valoriza o interesse deles pela atividade. Nosso desejo é repetir o evento periodicamente”, declara.

Entre idas e vindas para o almoço e lanche da tarde, os servidores da Cidade Administrativa podem aproveitar a oportunidade para escolher o que comprar. É o caso da servidora Maria do Perpétuo Socorro, uma freguesa antiga. “Eu sempre compro com eles. É uma pena que seja só um dia... Acho que poderiam fazer mais vezes”, observa. Para a também servidora Cíntia Castro, o fato de a feira acontecer próximo do prédio onde ela trabalha torna a compra mais cômoda. “Gosto da feira. Ela facilita a vida do servidor. Da outra vez, eu comprei uma bolsa. Adoro tudo aqui!”, revela.

Estreantes nesta edição, profissionais da Penitenciária de Três Corações expuseram vários artigos produzidos em 2016, como quadros, flores e bonecas de cabaça, e destacaram que o artesanato é uma oportunidade de os detentos aprenderem um ofício novo.

Responsável por acompanhar o projeto no Presídio de Abaeté, a psicóloga Graciele Lopes contou que tudo começou com um único preso, que se tornou multiplicador pela dedicação e esforço. Nesta unidade, entre outros itens, a especialidade é a produção de tapetes com o escudo de grandes times de futebol, como Atlético e Cruzeiro. Ainda segundo Graciele, os homens trabalham de segunda a sexta, em horário integral, e as mulheres, às quartas e sextas, em igual período.

Os valores arrecadados com a venda na feira são revertidos para a compra de materiais ou divididos entre os presos. Na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, por exemplo, a quantia é repartida pela cooperativa e repassada às famílias.

A diretora de Atendimento e Humanização da Penitenciária José Maria Alkimin, Hélia Gonçalves, mostrou-se empolgada com a parceria com a empresa de móveis Traço Forma. Eles são os responsáveis por capacitar os detentos na produção de armários planejados, bancos e até guarda-roupas personalizados. Atualmente, a unidade possui três presos trabalhando, mas a ideia é chegar a 15.

O empresário Rogério Fernandes diz que, no começo, ficou apreensivo com a proposta de desenvolver as atividades dentro da José Maria Alkimin, mas comemora os bons resultados, principalmente os efeitos sociais do empreendimento. “Eles participam de todas as fases de produção, demonstram interesse e, após saírem da prisão, poderão trabalhar por conta própria”, afirma.

Quinze unidades prisionais em todo o Estado fazem parte da feira em datas diferentes ao longo do ano. Segundo o coordenador de produção, Gleison Anastácio, a proposta é de que outras unidades passem a fazer parte da iniciativa. “O Mãos que Criam está dentro do processo de humanização. Tem como missão estimular e trazer satisfação ao preso por ter seu trabalho reconhecido”, acrescenta.

 

O artesanato tem ganhado espaço nas unidades prisionais, garantindo remição de pena e renda para os presos e familiares. Para cada três dias trabalhados, um dia é deduzido da pena. “O momento de sair da cela para a sala de artesanato, o aprendizado de uma nova atividade e o fato de saber que as pessoas utilizam a produção deles são formas de os recuperandos se sentirem úteis e valorizados”, ressalta a psicóloga.

 Por Pablo Abranches

Crédito fotos: Jeniffer Cardoso

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