Os detentos estudaram na Escola Estadual Dênio Moreira de Carvalho, que funciona dentro da penitenciária desde 1999. É a escola mais antiga do sistema prisional e tem, hoje, 150 alunos matriculados. O detento Clodoaldo de Oliveira, formando do Ensino Médio, conta que no dia em que chegou à Penitenciária foi prontamente levado à escola, para se matricular. Agora ele já concluiu o Ensino Médio, mas quer continuar estudando. “Faculdade é o meu pensamento, meu sonho. Gostaria muito de fazer advocacia”, diz.
Para a diretora de Ensino e Profissionalização da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) e madrinha dos formandos, Sandra Regina Madureira, o mais gratificante é oferecer oportunidades reais a quem quer mudar de vida. “Se não fossem os portões, a unidade seria facilmente confundida com uma fábrica ou escola. Estou muito emocionada, porque acredito no ser humano”, pontuou na fala em homenagem aos recém-formados.
A formatura aconteceu no auditório da própria unidade e, além de funcionários da Suapi, estavam presentes representantes dos poderes executivo, legislativo e judiciário locais, diversos parceiros e familiares dos detentos. Para o diretor da penitenciária, tenente Adão dos Anjos, o apoio da comunidade é essencial aos avanços obtidos na unidade. “A gente tem apoio muito grande de toda a sociedade do Vale do Aço. Se não fosse isso, a Penitenciária de Ipaba não teria o sucesso que tem”, afirma.
Exemplo
A escola da Penitenciária Dênio Moreira de Carvalho, piloto no sistema prisional, não é a única ação exemplar da unidade. De acordo com o diretor, a Penitenciária de Ipaba, como é conhecida, também foi a primeira unidade do país a ter parceria com instituições de ensino superior, realiza uma média de 5 a 6 cursos profissionalizantes por ano e tem, atualmente, 23 oficinas que empregam cerca de 200 detentos em atividades que variam desde a fabricação de queijos até peças automobilísticas para grandes montadoras. Pelo trabalho e estudo os presos recebem remição de pena, ou seja, a cada três dias trabalhados ou 18 horas de estudo, a sentença é reduzida em um dia.
Wilken Arruda concluiu o curso de mecânica na unidade e trabalha, atualmente, como torneiro mecânico. Para ele, a oportunidade de trabalhar e estudar renovaram as esperanças de uma nova vida junto à família. “Cheguei na unidade pensando em pagar minha pena, mas sem esperança de ter um futuro diferente. Hoje eu sou uma pessoa muito melhor. Trabalho, estudo, sou feliz e tenho pensamento positivo para sair e buscar uma vida de honestidade”, afirma.
Adão dos Anjos também aponta o trabalho religioso, feito em parceria com cinco igrejas evangélicas e com a pastoral carcerária, o tratamento humanizado dos presos, a atenção dispensada às suas famílias e o acompanhamento jurídico rigoroso como pontos positivos da penitenciária. Os resultados podem ser medidos: a unidade, que foi considerada moderna, nova e segura no relatório da CPI do Sistema Penitenciário realizada em 2008, está há 10 anos sem registrar fuga por transposição de barreira e, de acordo com estudo feito pela Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac), cerca de 60% das pessoas que passam pela penitenciária não retornam ao crime.
Mudança
A PDMC não foi sempre exemplar. O tenente Adão, que é diretor da unidade desde 200, lembra que, no ano anterior, a Penitenciária de Ipaba tinha virado manchete de jornal como pior unidade do país e ele mesmo já enfrentou uma rebelião com 16 reféns. “Quando assumi, me comprometi a acabar com as rebeliões, implantar educação, ressocialização e o cumprimento da Lei de Execução Penal (LEP)”, conta.
Deu certo. Hoje, além das oficinas, escola e cursos profissionalizantes, os presos ficam em celas individuais, há encontros quinzenais, doação de cestas básicas e de brinquedos aos familiares dos detentos e enorme entrosamento com o poder judiciário, polícias militar e civil e organizações não governamentais (ONGs).
As atividades são diversas, o importante é que o preso não fique ocioso. No segundo Festival de Música do Sistema Penitenciário (Festipen), por exemplo, detentos de Ipaba ficaram com o primeiro, segundo e oitavo lugares e há na unidade, inclusive, um preso compositor. Geasis da Silva é cantor gospel e já gravou três CDs que, juntos, venderam mais de 3000 cópias. “Tudo isso faz com que a unidade cresça e seja tranquila”, diz o diretor. Ele conta que os próprios presos se fiscalizam e chamam a atenção um dos outros para que tenham postura correta. “Somos a prova de que o sistema prisional não está falido. O que está falido é a falta de gerenciamento, de políticas prisionais e os interesses contrários de pessoas que esquecem que os presos perderam a liberdade, mas não perderam a cidadania”, conclui.