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Embora não tenha espaço nem sequer para estacionamento de viaturas, que ficam na calçada em frente, o Presídio Regional de Ibirité consegue atualmente desenvolver todas as atividades previstas na Lei de Execuções Penais: oferta de trabalho, educação, assistências médica, psicológica e jurídica e atividades religiosas.

Em uma área construída de apenas 400 metros quadrados, que se projeta no meio fio de uma avenida movimentada de Ibirité, estão recolhidos 150 presos. A capacidade é para 90. Mas o aperto não se restringe a isso. Nesse mesmo espaço, há salas administrativas, celas, cozinha, parlatório, pátio para banho de sol, canil, um pequeno ambulatório e uma sala de aula. Repleto de “puxadinhos”, o presídio foi sendo reformado nos últimos tempos com a ajuda de empresários do município, que contribuem com doações e serviços para melhorias na unidade.

Estrutura física

A pequena sala de aula do Presídio Regional de Ibirité, que atende cinco estudantes por turma, é mantida por um empresário que prefere não ser identificado. O salário da professora é pago por ele e o conteúdo ministrado é acompanhado por uma escola municipal parceira da unidade. E os esforços não param por aqui. O pequeno pátio para banho de sol, onde os presos recebem os seus familiares em dias de visitação, era descoberto e as visitas ficavam a mercê do clima: em dias de muito sol, o desconforto do calor. Em dias chuvosos, a impossibilidade dos encontros.

Com a ajuda de parceiros, o diretor da unidade angariou R$12 mil e solicitou a instalação de uma cobertura retrátil no pátio. Agora, as visitas independem do clima e as famílias se sentem mais confortáveis.

Ao lado do pátio, um corredor estreito foi transformado em salão-escola, custeado por um outro empresário da cidade. Espírita, ele prefere que a sua contribuição continue anônima. A técnica de corte de cabelo e princípios básicos de química capilar são aprendidos em três meses. O pequeno espaço já rendeu bons frutos e muitos que por ali passaram agora já sabem por onde começar quando a liberdade lhes for concedida.

“Quando eu sair daqui, vou montar um salão pra mim”, diz Michael Alves Gomes, de 25 anos. Segundo o instrutor do curso, César Augusto dos Reis, o aprendiz tem talento e pode sim viver do ofício aprendido dentro da unidade prisional.

Visita íntima

Para preservar o vínculo dos detentos e de suas companheiras, a direção da unidade não deixou a visita íntima de lado. Apesar do pouco espaço, o Presídio de Ibirité também conta com uma cela destinada às visitas íntimas. Os presos que têm união estável podem usufruir deste benefício.

Outra vertente empregada para fortalecer as relações familiares é a assistência religiosa. O detento Jonathan Daniel Batista da Silva, de 27 anos, é a prova de que força de vontade, paciência e apoio são fundamentais para transformar a vida de uma pessoa encarcerada. Ele e a esposa Daiane Cristina da Silva participaram do curso “Casados para Sempre”, com duração de três meses e ministrado dentro do presídio por missionários da Igreja Batista Betel.

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Foi ela quem quis participar dos encontros e convenceu o marido. Foi a segunda turma do curso formada na unidade prisional. Na opinião de Jonathan e Daiane, a experiência foi uma oportunidade única de mudança de vida.

“A gente vivia em pé de guerra. Era só briga e confusão. Eu não concordava com nada do que ele falava e ele discordava de tudo o que eu dizia”, lembra Daiane. Três meses de curso e leituras bíblicas mudaram a realidade deste casal.

Mais maduro e ciente da importância da união familiar, o preso diz ser outra pessoa. “Não eram só os encontros. Fazíamos várias lições e eu aprendi muito. Durante as reuniões a gente compartilhava as nossas dificuldades e aprendemos como lidar com tudo aquilo”, conta Jonathan.

Com dois filhos, o casal aguarda ansioso a liberdade de Jonathan. E o jovem, que é pintor profissional, não vê a hora de voltar pra casa, desta vez longe da criminalidade.

Psicologia

Encontros religiosos não são as únicas iniciativas que buscam melhorar o ambiente carcerário de Ibirité. Lá os presos contam com o apoio da psicóloga da unidade, Eliabe Lisboa, que pouco a pouco fez com que os detentos entendessem que psicologia não é uma alternativa de tratamento para pessoas com distúrbios mentais, mas sim uma ciência que estuda o comportamento humano e seus processos mentais.

O atendimento psicológico também foi estendido para os funcionários da unidade. Uma vez por semana a profissional atende voluntariamente os colegas de trabalho e essa prática tem melhorado a qualidade de vida tanto dos presos quanto dos agentes de segurança.

Por: Flávia Lima

Fotos: Marcelo Sant'Anna