Uma iniciativa pioneira do Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), vai dar emprego em regime de CLT para rapazes com 18 anos ou mais de idade em cumprimento de medida de internação. Para isso, uma fábrica de blocos foi instalada dentro do Centro Socioeducativo de Justinópolis, em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e vai empregar inicialmente sete jovens como auxiliares de construção civil. A jornada de trabalho é integral, para um salário de R$ 866 mensais, sem prejuízo da educação. Os jovens continuarão estudando, agora no período noturno, na escola do próprio centro.

Foto- Omar Freire Imprensa MG

O subsecretário de Atendimento às Medidas Socioeducativas (Suase), Armando dos Anjos, diz que a parceria, firmada com a empresa Inovacon Comercial, é um passo adiante na política de Minas Gerais de preparar os adolescentes em cumprimento de medida para a busca de emprego. Agora, se trata da própria inserção no mercado de trabalho, observa.

“Essa iniciativa é um começo de muitas outras que virão, nós precisamos investir na profissionalização desses jovens e são projetos como este que devem ser alcançados e difundidos. Nós temos a responsabilidade de dar um norte, uma condição para que quando esses adolescentes saiam do sistema tenham vaga no mercado de trabalho. Queremos devolvê-los para a sociedade com alguma coisa positiva e um aprendizado que os ajude” destaca Armando.

Seleção

Para ingressar na fábrica, o adolescente passa por avaliação da equipe técnica e de segurança do centro socioeducativo e por uma entrevista com o coordenador local da fábrica, Divino Francisco de Oliveira. Superadas essas etapas, o jovem selecionado é testado por três dias na produção. Se aprovado, assina o contrato de trabalho.

A Inovacon Comercial é uma empresa de serviços de contabilidade. O proprietário, Adilson Marcos Pereira, também atua na construção civil, mas é a primeira vez que faz uma incursão na produção de blocos de cimento. Diz ter decidido instalar a fábrica de um centro socioeducativo por acreditar na capacidade de recuperação e crescimento dos jovens que estão em cumprimento de medida.

Foto- Omar Freire Imprensa MG

Foram quatro meses de testes para selecionar os primeiros cinco jovens, que já estão trabalhando. Foram investidos R$ 130 mil nas instalações e equipamentos. Cerca de seis mil blocos já saíram da linha de produção.

A meta da empresa, segundo Pereira, é produzir 10 mil blocos por semana. “Nossa intenção é expandir o negócio e produzir também lajes e bloquetes, mas dependemos do mercado para isso” afirma o empresário. Ele também planeja a construção de uma fábrica fora dos muros do centro socioeducativo, onde pretende empregar os rapazes quando ganharem a liberdade. Ele já tem experiência nisso. Empregou egressos do socioeducativo em obras executadas por sua construtora.

Otimismo

A juíza titular da 2° Vara da Infância e Juventude, Lívia Lúcia Oliveira Borba, destaca a importância do trabalho e estudo para os jovens em cumprimento de medida socioeducativa e elogia a iniciativa da Inovacom.

“Isso vai ajudar muito, porque é uma chance que eles não teriam com tanta facilidade fora do centro. Eles vão poder sair daqui com uma qualificação profissional, além de refletirem sobre o cumprimento da medida. Eu acredito que esse é o caminho para evitar a reincidência desses menores”, diz a magistrada.

Para Gustavo Cruz*, um dos primeiros contratados na fábrica, o emprego trouxe uma nova perspectiva de vida. “Nunca tinha trabalhado antes. Já aprendi muito desde que comecei, principalmente a ser mais responsável. Ganhei uma oportunidade de ter uma profissão, ajudar minha mãe e cuidar do meu filho”, afirma o jovem.

Thiago Rodrigues*, de 18 anos, tomou a iniciativa de procurar a direção do centro socioeducativo para obter vaga na fábrica assim que teve notícia do empreendimento. Antes de ser sentenciado, ele trabalhou de serralheiro e ajudante de pedreiro. “Tem duas semanas que eu estou aqui, e já aprendi muito, é um serviço muito bacana. Aqui as pessoas incentivam essa mudança na gente, e eu espero quando sair conseguir um emprego, continuar trabalhando e mudar de vida”.

*nomes fictícios

Crédito foto: Omar Freire/Imprensa MG

Por Fernanda de Paula