unidas pela arteEm fase final de acabamento e com mobiliário já comprado, será aberta nos próximos dias uma loja em Três Corações para vender exclusivamente peças de artesanato produzidas por presas em um ateliê já existente dentro dos muros do Presídio de Três Corações. Os recursos para a montagem da loja, situada no Centro da cidade, foram assegurados pela Associação pela Solidariedade ao Recuperando (Assolar), mantida pela Vara de Execuções Penais da Justiça local.
O dinheiro das vendas será totalmente direcionado para a manutenção do estabelecimento comercial e para a compra de matéria-prima para a confecção das peças artesanais. Atualmente, os insumos são doados pela Assolar.

A aposta na abertura da loja vem do sucesso que os produtos fazem em feiras, exposições e outros eventos públicos realizados no Sul de Minas. São mandalas feitas de folhas de jornal, cortinas de fuxico, jogos americanos, porta guardanapos, sousplat, cestas, panos de prato pintados à mão, luminárias, principalmente.

Muitas cores, miçangas, papéis reciclados, jornais velhos, tecidos, linhas, agulhas, pincéis, garrafas e cola compõem o ambiente do ateliê de 80 metros quadrados. A instalação funciona desde 2010 e, atualmente, emprega 10 detentas do Presídio de Três Corações.

Enquanto as mulheres se dedicam ao acabamento e à montagem, na parte masculina da unidade prisional 30 presos trabalham dentro das celas nas etapas iniciais da produção dos objetos. Eles dobram jornais, enrolam as folhas e fazem protótipos de várias peças.

A união faz a arte

No ateliê, o trabalho é coletivo, de formiguinhas. Enquanto uma pinta, a outra cola. Do outro lado da mesa seis mulheres trabalham na produção de flores de tecido, que serão utilizadas na decoração de uma vitrine. Com o olhar atento, a artesã Wanda Oliveira circula entre as presas. Graduada no curso Normal Superior, ela se especializou em artes e há cinco anos dá aulas para as detentas do Presídio de Três Corações. Ela considera a atividade uma conquista pessoal e que tem um sentido muito mais amplo do que ensinar um ofício.

“Eu amo o meu trabalho. A gente cria um vínculo afetivo com estas pessoas. Chamo a atenção e cobro bons resultados. Eu percebo o quanto a mudança destas mulheres é grande. Elas entram no ateliê de uma forma e saem completamente diferentes”, explica Wanda. Mas a professora faz questão de explicar que não faz nenhuma pregação para as detentas. “Eu não falo para elas que precisam mudar. Eu ofereço escolhas para que elas optem pela mudança de comportamento”, diz.

No ensino do artesanato, Wanda também faz questão de superar o lugar comum. Ela estimula as presas a fazer releituras de artistas plásticos famosos, como Romero Britto. Várias peças produzidas no ateliê da unidade prisional fazem referência a ele. O resultado pode ser medido na satisfação das alunas.

Ana Paula da Cunha, 30 anos, trabalha no ateliê há quase dois anos. Segundo ela, a pena de quatro anos de reclusão passou a ser mais leve. “O ateliê me ajuda a desenvolver outras habilidades. Além de ocupar a nossa mente, ajuda a passar o tempo, já que não ficamos ociosas o dia inteiro. Muitas coisa que aprendi aqui vou poder fazer lá fora”, diz a detenta, que está prestes a obter o livramento condicional, acelerado pela remição da pena, que é reduzida em um dia a cada três de trabalho.

Por: Flávia Lima

Crédito foto: Carlos Alberto