Em apenas três remessas, as entregas passaram de 600 espetinhos para 1.500 e há uma projeção de atingir 10 mil peças até março de 2016. Os espetinhos, feitos de bambu, são produzidos na marcenaria da Penitenciária Francisco Floriano de Paula, em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Há menos de um mês, seis detentos começaram a produção e têm como principal cliente a Petiscaria e Cervejaria Espetados, que funciona no centro da cidade.
O empresário Lucas Marçal explica que, anteriormente, comprava os materiais em supermercados, com uma qualidade inferior, ou de fornecedores especializados a um preço desfavorável. “Hoje tenho um preço ótimo e uma qualidade excelente. Tudo faz diferença, não há o risco de o cliente se machucar com uma farpa ou ainda de o palito quebrar”, explica o empresário.
A ideia de mudar de fornecedores partiu de uma conversa com o juiz da Vara de Execuções Criminais da Comarca, Thiago Colnago Cabral, que sugeriu empregar mão de obra prisional para fazer peças mais bem acabadas e baratas. “O trabalho reconstrói a personalidade de qualquer pessoa, especialmente de detentos. Acreditamos que é preciso oportunizar atividades produtivas no sistema prisional”, reforça o juiz.
Dos 20 tipos de espetos do cardápio da petiscaria de Valadares, 11 são servidos nas peças feitas pelas mãos dos presos da Penitenciária Francisco Floriano de Paula - o restante já chega ao restaurante com a carne espetada. A meta do empresário é preparar todas as opções de espeto em uma nova empresa, até março de 2016, portanto a produção semanal dos detentos deve passar de 1.500 para 2.500 peças.
“Com esta parceria unimos responsabilidade social, qualidade e preço. Todos saem ganhando”, comemora Lucas Marçal.
Engenharia
O responsável pela marcenaria é o agente de segurança Josué Ribeiro de Oliveira, de 44 anos, com nove de serviços na penitenciária. Em seu currículo, ele guarda uma experiência valiosa de desenhista e executor de projetos de artes gráficas na Coca-Cola. “Acho que esta antiga profissão me deu um olhar diferenciado para atividades artísticas ou que necessitem de inventividade”, avalia o agente.
Josué e um amigo torneiro mecânico criaram uma máquina, movida manualmente, que padroniza os palitos e os deixam quase prontos para a entrega. “O grande diferencial é a forma de manusear o equipamento e o acabamento final com as lixas”, revela Josué. As quatro máquinas utilizadas foram confeccionadas em uma funilaria, especialmente para o pequeno anexo da marcenaria da Penitenciária Francisco Floriano de Paula.
Thiago Jorge Alves, 30 anos, é um dos seis homens que se dedicam, de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h, na fabricação dos espetinhos. “A máquina foi uma boa ideia, é simples e fácil de operar”, conta o preso.
Os detentos têm direito à remição, que significa um a menos na pena a cada três dias de trabalho e serão remunerados pelo trabalho.
Por Bernardo Carneiro
Crédito foto: Divulgação Seds