Afeto: substantivo masculino, sentimento de carinho e ternura por algo ou alguém. Para mulheres que cumprem suas penas no Complexo Penitenciário Estevão Pinto (Piep), em Belo Horizonte, essas cinco letras têm um significado diferente. Para elas, afeto é substantivo feminino, e sua definição vai muito além daquela dada pelos dicionários: é sinônimo de resgate, recomeço e fortalecimento de vínculos.

Nos últimos três meses, quase 100 presas que estão prestes a ganhar liberdade participaram do projeto Pílulas de Afeto, uma iniciativa do Programa de Inclusão Social de Egressos do Sistema Prisonal (PrEsP), da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), em parceria com a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap). Durante sete encontros, as detentas trabalharam, em rodas de conversa e reflexões, o resgate de suas relações afetivas a partir da perspectiva do feminino, da vivência do encarceramento e da reconstrução da identidade.

Pilulas1

Além de poderem falar sobre seus afetos, as presas também tiveram a oportunidade de serem ouvidas. O resultado foram 13 podcasts gravados, em um total de 36 minutos, com as vozes das detentas recitando cartas para filhos, mães, pais e amores. Por meio da palavra escrita e falada, as presas puderam expor seus sentimentos e reflexões sobre a liberdade que se aproxima.

O projeto

Os analistas responsáveis pelo projeto – Rita de Cássia dos Santos e Rafael de Oliveira, do Centro de Prevenção Social à Criminalidade de Belo Horizonte – explicam que a afetividade perpassa nossas relações cotidianas e, por isso, é um importante meio de nos expressarmos sobre nossos próprios laços familiares e amorosos. Assim, ao se envolverem e relembrarem suas histórias, durante os encontros, as presas conseguiram direcionar novos olhares e resgatar relações e vínculos importantes com o mundo fora da penitenciária. 

Na última sexta-feira, 14.12, cerca de 60 presas participaram de uma confraternização que marcou o encerramento do projeto. “O retorno foi muito positivo. A gente pensou e planejou essa ideia, mas ela só foi possível porque elas toparam falar da história de vida delas e construir junto com a equipe”, avalia a diretora de Inclusão Social de Egressos do Sistema Prisional, Fabiana Dias.

Pilulas2

Segundo Fabiana, o trabalho dentro da unidade prisional é feito justamente para acessar um público que está prestes a deixar o sistema. “Identificamos as demandas delas, suas questões, seus medos, para que possamos ir construindo juntos um projeto de vida em liberdade. Quando saírem, elas já têm uma referência e sabem que o PrEsp está aqui para acolhê-las nesse processo de reinserção social”, detalha. “Percebemos que elas ficam felizes de saber que vai ter uma equipe para recebê-las, para cuidar, pensar e construir com elas as saídas aqui fora”.

Para a analista Rita de Cássia, as presas da Piep aderiram muito bem à iniciativa. “Durante todo o projeto elas estavam muito dispostas a falar sobre si mesmas e sobre suas próprias questões, além de suas relações afetivas com familiares e cônjuges”, conta. Agora, o objetivo é colocar as pílulas – e o afeto – produzidos para circular. “Queremos que essas vozes sejam ouvidas por mais gente”.

Pílulas de Afeto

Escute aqui alguns dos podcasts produzidos no projeto:

Pílulas de Afeto 1

Pílulas de Afeto 2

Pílulas de Afeto 3

 

Texto: Luiza Muzzi

Fotos: Divulgação/Sesp

Enviar para impressão