Durante três meses eles tiveram aulas todas as tardes com o agente socioeducativo Leomar Oliveira de Souza, que antes de começar a atuar no sistema socioeducativo trabalhava como cabeleireiro e tem um histórico de atuações sociais. “Comecei cortando os cabelos dos meninos. Depois pensei que tinha de dar a eles a oportunidade aprenderem uma profissão. Estamos aqui na função de agentes e se podemos fazer algo, por que não fazer?”, relata.
O corte de cabelos foi a atividade preferida pelos adolescentes, mas até adquirirem prática tiveram que cumprir a etapa menos apreciada pelos dois que consistia no treino com bonecos. A dupla alega que, no final, valeu a pena, já que hoje há agentes e oficineiros que só cortam os cabelos com eles.
Comportamento
O curso abrangeu mais que a parte técnica das atividades e dos tratamentos capilares. Os adolescentes tiveram a chance de aprender muito sobre relações interpessoais. “A gente conversava sobre comportamento, aprendia que tinha que ficar mais calmo, ser mais unido”, conta um dos formandos, de 19 anos. Ele gostou tanto da atividade que mesmo agora, que o curso já acabou, faz questão de freqüentar o salão da unidade quando pode. Com 18 anos e acautelado há 9 meses, o outro formando conta que, além do curso de cabeleireiro, ele teve aulas de informática e conservação de obras civis.
De acordo com a diretora de atendimento do Csest, Vanessa Rodrigues Cardoso, todos os 32 adolescentes acautelados na unidade participam de alguma atividade extracurricular, como oficinas de bambu, de espanhol, de teatro, além de receber atendimento psicológico com voluntários e participar de atividades de espiritualidade. “São as parcerias que enriquecem o trabalho. Quanto mais parcerias, mais coisas podemos ofertar”, afirma.
O curso de cabeleireiro é um exemplo, já que foi possibilitado por uma parceria com a Organização Não-Governamental (ONG) “Todas as Tribos”, que há dois anos desenvolve trabalho com jovens de todo o país. “A vida é feita de oportunidades. Vocês são capazes de mudar toda a violência e criminalidade dessa geração. Nós acreditamos em vocês, vocês têm muito mais para dar”, disse o presidente da ONG, Flávio Lages Rodrigues, aos jovens, na solenidade de entrega dos diplomas.