Uns chegaram com experiência nos ofícios de pedreiro, eletricista e soldador. Outros aprenderam com os companheiros de cárcere. Era o que o Presídio de Pirapora precisava para ganhar novos serviços para os próprios detentos. Nos últimos meses, sob a supervisão de funcionários da unidade, presos construíram duas salas de aula, duas celas para visita íntima, salas para a administração e o atendimento psicossocial e fizeram manutenção hidráulica e elétrica do estabelecimento.

Detentos trabalham na finalização da muralha do Presídio de Pirapora.

A conquista mais valorizada pelos detentos é a possibilidade de ter relações amorosas com as companheiras, o que não era possível antes por falta de local adequado. As celas íntimas construídas dispõem de cama de casal e ficam afastadas da área de carceragem, o que proporciona privacidade, como prevê a Lei de Execuções Penais Estadual. Os encontros acontecem uma vez por mês, mediante comprovação de relacionamento estável e cadastro prévio da parceira.

O engajamento dos presos também serviu para fortalecer a segurança do presídio. Eles construíram um canil e a muralha. Até recentemente, a unidade era cercada por mourões de eucalipto de seis metros de altura, nos quais se passava graxa para dificultar a escalada por presos em tentativa de fuga.

Detentos atuam como pedreiros em obras da unidade.

O diretor-geral do Presídio de Pirapora, Helder Soares Veloso, diz que as obras foram custeadas por empresários da região. “Conseguimos esse apoio devido à credibilidade alcançada pelos agentes penitenciários e demais servidores do presídio junto à sociedade local”, afirma o diretor.

Quando a equipe de reportagem da Seds esteve na unidade, os presos terminavam de soldar uma passarela no alto da nova muralha, e foi nesse local que o detento, Adailton Pereira da Quina, 38 anos, falou sobre seu trabalho. “Na realidade sou o pedreiro oficial da unidade, trabalhei em diversas obras, a solda que estou fazendo aprendi com um amigo de cela soldador, fui aprovado nos testes”, contou com orgulho.

Presos na sala de aula construída por eles.

Livros e sexo

A ocupação dos presos nas obras é revertida em remição de pena, à razão de um dia a menos a cada três trabalhados. O Presídio de Pirapora também oferece oportunidade de estudo. Atualmente, há cerca de 40 alunos em diferentes séries do Ensino Fundamental e Médio, na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA).

O diretor-geral do presídio relata que a dose tripla, formada por trabalho, estudo e cela íntima “ajuda a manter a paz na unidade e compensar a superlotação.”

Cela de visita íntima no Presídio de Pirapora.

Ele diz que a próxima empreitada da direção do Presídio de Pirapora será a instalação de um galpão de trabalho para 15 presos, onde será produzido campo operatório, tecido usado em cirurgias para isolar áreas do corpo.


Por Bernardo Carneiro

Crédito fotos: Omar Freire/Imprensa MG