Um grupo de 120 funcionários da MG Premoldados interrompeu o trabalho nesta sexta-feira, 10.07, para um compromisso diferente na sede da empresa, do ramo da construção civil, em Contagem. Os trabalhadores formaram a plateia para uma apresentação do grupo teatral “Vida Nova”, formado por detentos da Penitenciária José Maria Alkimin, de Ribeirão das Neves. Vindo de atores com trajetória na criminalidade, o tema da peça teve um quê de inusitado: os danos e as consequências do uso de drogas.
A iniciativa de levar a peça “Vida Nova” para os empregados partiu da própria MG Premoldados, parceira da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) na abertura de vagas de trabalho para detentos, inclusive da Penitenciária José Maria Alkimin. O diretor da empresa Marcelo Machado destacou a importância para os empregados de ouvir o testemunho de pessoas que estão pagando por crimes cometidos no passado e que encontraram no teatro uma forma de expressar arrependimento.
A gestora de Recursos Humanos da empresa, Maria Helena, contou que os funcionários da empresa ficaram empolgados quando souberam da apresentação da peça. “Trabalhamos há cerca de 7 anos com sentenciados na empresa e após conhecer o trabalho do Grupo Vida Nova fizemos questão de trazê-los para prestigiar o trabalho e oferecer aos nossos funcionários o contato com os depoimentos”, disse.
O acerto da iniciativa pôde ser atestado pela reação dos trabalhadores ao fim da apresentação. O funcionário José Rafael elogiou a peça e o engajamento dos presos no grupo de teatro. “A apresentação é muito boa, mas melhor ainda é saber que eles estão se ocupando com boas coisas no presídio, aprendendo e cooperando para que ao final da pena não voltem para o crime”.
Repertório
O Vida Nova possui atualmente um repertório próprio de 5 peças, que são encenadas em escolas, congressos, empresas privadas e eventos públicos. O grupo foi formado pelo agente de segurança penitenciário Fábio Alves, que coordena o núcleo de avaliação e acompanhamento psicossocial da penitenciária. Segundo ele, a ideia surgiu em 2010, como forma de incentivar o bom comportamento e ocupar o tempo ocioso dos detentos. E Fábio escolheu justamente presos de mau comportamento para a formação inicial do grupo.
“No início a ideia era acolher aqueles que mais levavam dificuldade ao dia-a-dia da penitenciária. Depois, devido à alta procura, começamos a selecionar de acordo com pré-requisitos”, afirmou.
Segundo Fabio, a mudança de comportamento dos integrantes foi notável e dentre os participantes que retornaram à liberdade, nenhum reincidiu na penitenciária.
Hoje, para participar do grupo é necessário ter bom comportamento, trabalhar e frequentar escola. É o caso de Hugo Leonardo, de 23 anos, faz parte do Vida Nova há cerca de 5 meses. Ele diz que, se tiver oportunidade, vai seguir carreira no teatro. “É ótima a chance de participar do grupo, pois além de distrair, pude aprender a falar e agir melhor”, afirmou.
Roger Oliveira, também detento da José Maria Alkmin, disse que decidiu pedir vaga no Vida Nova para enriquecer a carreira de MC. “Nos ensaios, posso aprender técnicas de palco e desinibição. Então além de me ajudar no cumprimento da pena, contribui para o meu futuro”, ressaltou.
Desde a criação, o grupo já se apresentou para um público de mais de 20 mil pessoas, tendo dividido palco com artistas como Ivete Sangalo, Milton Nascimento e Vander Lee. O Vida Nova conta com o apoio do Grupo Teatral Aruanda, de Belo Horizonte, que fornece figurinos e maquiagem para os atores da José Maria Alkimin.
Por Paula Roberta
Créditos fotos: Wellington Pedro/Imprensa MG