Atender o celular a qualquer hora e estar sempre aberto a conversar com os pacientes sobre os mais corriqueiros problemas pessoais são qualidades importantes em um médico psiquiatra de estabelecimento prisional. Mas Luís Gustavo Fischer fez algo pelos presos da Penitenciária Professor Aluízio Ignácio de Oliveira (PPAIO), de Uberaba. Pagou do próprio bolso uma reforma completa do consultório do estabelecimento prisional, onde atua como servidor efetivo.

Ar condicionado, teto rebaixado de gesso, lâmpadas de led, móveis planejados, mesa de exame e balança, novinhos em folha, chamam a atenção na sala de trabalho de Luís Gustavo na PPAIO. “O consultório aqui é mais confortável e aconchegante que o meu particular. Sempre me identifiquei com saúde pública. No entanto, jamais havia pensado em atuar dentro de uma penitenciária. Foi uma paixão à primeira vista”, diz o psiquiatra.

Simplicidade

Luís Gustavo começou a trabalhar na penitenciária em 2009 em regime de contrato. Em 2013 foi aprovado em concurso público da Secretaria de Estado Social (Seds) para uma vaga de médico psiquiatra. Mas, no dia a dia da PPAIO, atua também como clínico geral, contribuindo para ampliar o leque do atendimento aos presos. Segundo ele, simplicidade e calma são caraterísticas importantíssimas nesse trabalho.

“Trabalho sempre com um olhar para a humanização, escuto atentamente os pacientes e procuro despertar em cada um deles uma preocupação com a espiritualidade, sem que ela tenha necessariamente vínculo com alguma religião”, acrescenta Luís Gustavo.

O preso Shelber Henrique Sabino, de 34 anos de idade, traduz bem os efeitos dessa filosofia de trabalho. As queixas de Shelber estavam relacionadas a constantes dores de cabeça, dificuldade para dormir e inchaço no joelho. “Ele me ouviu e explicou tudo direitinho. Passei a dormir melhor e as dores de cabeça sumiram, inicialmente com remédio, mas com a sua ajuda fiquei livre de medicamentos”, conta o condenado.

Exemplo

O diretor de atendimento da penitenciária, Luis Fernando de Resende Fontoura, diz que o psiquiatra atende 20 a 40 detentos por dia e é um exemplo de dedicação. “Sempre podemos contar com o Luís Gustavo, é um profissional diferente, em todos os sentidos. Gosta do que faz e sempre procura um retorno dos seus atendimentos”, diz Luiz Fernando.

O diretor-geral da PPAIO, Itamar da Silva Rodrigues Junior assina embaixo: “Ele representa tudo de melhor no caminho da ressocialização dos detentos. Temos orgulho do seu trabalho, que é exemplo para todo o sistema prisional.” Itamar observa que a generosidade de Luís Gustavo não se restringe à profissão; é um traço da personalidade desse jovem médico, pai de dois filhos adotivos, um menino de cinco anos e uma menina de quatro.

Por Bernardo Carneiro

Crédito foto: Carlos Alberto / Imprensa MG