Moradoras de comunidades de Belo Horizonte que participaram, no mês da mulher, de projetos temáticos do Programa Mediação de Conflitos, voltados para a redução da violência doméstica e do feminicídio, puderam desfrutar de eventos de encerramento das atividades neste sábado, 30.03. De todo o público atendido pelo programa, desenvolvido pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), que também auxilia em casos de violência contra a mulher, 70% são mulheres.
Ao longo dos encontros, as equipes do Mediação de Conflitos fomentaram a criação de grupos para discussão da temática da violência contra a mulher e fortalecimento dos vínculos comunitários. Foram trabalhados conceitos de violência de gênero, as prerrogativas da legislação e também os meios existentes na rede de proteção para a busca de auxílio e rompimento do ciclo da violência.
No sábado, durante a manhã, cerca de 70 moradoras do bairro Jardim Leblon, na região de Venda Nova, participaram de um evento de encerramento do projeto “Mulheres em Evolução”, que debateu violência doméstica durante o mês de março. O dia teve início com um café da manhã coletivo e uma apresentação de músicas e poesias do grupo. Em seguida, foi exibido um documentário sobre violência contra a mulher, com abertura para o debate na sequência. Para descontrair, as participantes tiveram aulas de zumba. Houve também um sorteio de brindes doados pela comunidade.
Gestora do Centro de Prevenção à Criminalidade (CPC) Jardim Leblon, Flora Moara conta que o projeto nasceu a partir de uma leitura dos atendimentos realizados pela equipe do Programa Mediação de Conflitos nos territórios de atuação do CPC. “Muitas mulheres que recebemos têm a violência doméstica por trás de demandas diversas relacionadas a pensão alimentícia, divórcio, entre outros, então desenvolvemos um projeto para trabalhar a temática de gênero”, explica. “Tudo foi construído com as moradoras, desde o formato do grupo, a duração e os temas que elas queriam trabalhar. Assim, elas se sentiram muito respeitadas e escutadas nesse processo, se sentiram realmente parte criadora do projeto”.
Desde janeiro, o grupo Mulheres em Evolução tem se reunido quinzenalmente e, agora, não quer mais parar. “Elas criaram um vínculo tão grande que não querem terminar o grupo. O evento de sábado foi a finalização de uma primeira etapa e também a oportunidade de chamar mais mulheres”, conta Flora. “O projeto visa que elas sejam multiplicadoras dos direitos das mulheres, e o resultado foi exatamente esse”, completa a gestora.
Também no sábado, na parte da tarde, foi a vez das moradoras do Aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, que participaram do projeto “Entre Nós”, responsável pelo fomento de discussões sobre os direitos das mulheres, as redes de proteção e questões atreladas ao racismo. Realizado na Pracinha do Arauto, o evento teve apresentações de música e dança, incluindo as artistas Nega Jackie e Luiza da Iola e os passistas da Escola de Samba de Venda Nova, além dos participantes da oficina de passinho do programa Fica Vivo!, também desenvolvido no CPC Serra. O grupo Morro Encena fez uma apresentação teatral, e uma roda de capoeiristas, composta por mulheres, encerrou as atividades da tarde.
O Programa
Presente em 33 Centros de Prevenção à Criminalidade de Minas, o Mediação de Conflitos trabalha a prevenção e o enfrentamento à violência em territórios de vulnerabilidade social por meio de atendimentos individualizados e atividades coletivas. Em relação aos casos de violência contra a mulher, o programa oferece acesso a informações sobre o ciclo da violência, os direitos das mulheres, as medidas protetivas e as formas de saída de relacionamentos abusivos, para que as mulheres possam se fortalecer para sair da violência. Além das intervenções preventivas e de enfrentamento, o Mediação também atua no esclarecimento, junto às mulheres, sobre direitos que coabitam o ciclo de agressões, como reinvindicações de paternidade, pensão alimentícia, entre outros.
Em 2018, o Mediação de Conflitos realizou cerca de 16 mil atendimentos, grande parte deles relacionados a casos de violência doméstica e intrafamiliar. Dentre os casos recebidos no ano passado que envolvem violência, 48% eram relativos às violências domésticas e intrafamiliares contra a mulher.
Texto: Dayana Silva e Luiza Muzzi
Fotos: Divulgação Sesp