Livros não transformam o mundo. Livros transformam pessoas e pessoas transformam o mundo, já dizia o poeta Mário Quintana. Transformar, mudar a realidade, viajar por meio da leitura. É isso que se propõe um projeto inaugurado na manhã desta terça-feira (1/10), para adolescentes dos Centros Socioeducativos Andradas, São Jerônimo e Santa Terezinha, localizados na capital mineira. Ficção, aventura, romance, história. São mais de 100 livros, de vários tipos e para todos os gostos, que fazem parte do acervo do projeto Caixa–Estante, uma espécie de biblioteca itinerante vai atender cerca de 60 jovens dessas três unidades e terá ponto fixo na unidade Andradas.

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A ideia é que o acervo do Caixa–Estante fique no Centro Socioeducativo Andradas por três anos, sendo renovado de tempos em tempos. O projeto é da Secretaria de Estado de Cultura e está sendo disponibilizado para os jovens em conflito com a lei por meio de uma parceria com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública.

Nesta manhã, os 100 livros foram recebidos com festa pelos adolescentes e pela equipe da unidade. Para a diretora do Centro Socioeducativo Andradas, Veryane de Oliveira, livros têm o poder transformador de mudar a realidade. “A leitura e a educação abrem portas e promovem um espírito de reflexão, de aprendizado. Uma biblioteca aqui vai proporcionar aos meninos conhecer outras coisas e repensar a própria vida e suas escolhas”, diz.

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Já a diretora de atendimento da unidade, Brenda Prado, acrescenta que o projeto permite aos adolescentes conhecer um serviço que muitas vezes eles nem sabem que está disponível. “Trazer isso para cá, com a participação das outras unidades, mostra um novo mundo para eles, além de possibilitar que eles continuem usufruindo da leitura depois de cumprirem a medida, levando esse hábito inclusive para famílias”.

Para marcar a inauguração, 15 participantes do projeto Palavra Viva, destinado a estudantes de escolas públicas de Belo Horizonte, que busca difundir o estudo da literatura brasileira por meio do teatro, presentearam o Centro Socioeducativo declamando poemas e cantando músicas da MPB.

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Luiz Carlos*, 17 anos, adorou a iniciativa. Cantou e dançou com as músicas. “Já tinha visto apresentações de poemas e de música, mas as duas coisas juntas é a primeira vez. Eles podiam voltar sempre. Quando sair aqui da unidade quero participar de um projeto como esse.”

Carro-biblioteca

Além dos livros que ficarão fixos na unidade Andradas, nesta manhã, uma outra atividade voltada à leitura encheu os olhos dos jovens do socioeducativo. Logo no início da manhã, divididos em turmas, eles visitaram o Carro-Biblioteca - um serviço de extensão da Biblioteca Estadual de Minas Gerais, que funciona como biblioteca móvel, percorrendo bairros da capital nos quais não existem bibliotecas comunitárias e levando informações e o estímulo do gosto pela leitura. Nesta terça, o caminhão estava estacionado na Avenida dos Andradas, com um acervo de 3.500 livros, apresentando aos transeuntes e aos jovens do socioeducativo os serviços prestados pela biblioteca, tirando dúvidas e contando muitas histórias.

Curioso, Caio Felipe*, de 17 anos, do Centro Socioeducativo Andradas, foi um dos primeiros a entrar no veículo. Devagar, ele folheou livro por livro, observou os títulos, se encantou com as gravuras e escolheu um que lhe chamou a atenção. Ao final, vibrou com o presente recebido pela equipe da biblioteca: vários livros, de temas diversos para ler nos momentos de lazer. “Vou começar por este aqui, mas quero ler todos estes outros e os da Caixa-Estante. Quero descobrir novos lugares, outras realidades. Como não posso sair daqui ainda vou fazer isso por meio dos meus novos amigos: os livros”, afirma.

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Bem empolgadas, as adolescentes do Centro Socioeducativo São Jerônimo também encheram a equipe do Carro-Biblioteca de perguntas e já queriam fazer na hora a carteirinha de empréstimo de livros. Os olhos brilhavam assistindo a contação da história “A fonte da sorte”, feita pelos servidores do projeto. E depois se divertiram vestindo as fantasias de Harry Potter em que estavam caracterizados os dois contadores.

“Quero pegar todos. Fiquei encantada com este aqui, Jardim de Inverno, da Kristin Hannah, espero que ele ainda esteja disponível quando eu fizer minha carteirinha. Vou ficar de olho”, conta Amanda Martins*, 18 anos.

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* Os nomes dos adolescentes são fictícios para proteção das identidades, conforme orientação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Por: Lara Nassif

Fotos: Dirceu Aurélio