Quase um milhão de marmitas feitas de poliestireno expandido (EPS) - um tipo de plástico celular rígido conhecido pelo nome da marca isopor - já foram recicladas neste ano pelo Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG) juntamente a uma empresa parceira. Foram, ao todo, 917.530 embalagens de refeições de presos coletadas em quatro unidades prisionais da Região Metropolitana de Belo Horizonte, de 1º de janeiro a 8 de maio deste ano. Os números correspondem a cerca de 27,5 toneladas de material, que passam pelo primeiro processo de reciclagem na área externa do Presídio Inspetor José Martinho Drumond, em Ribeirão das Neves.
Do presídio de Neves, o produto é transportado via caminhão, a cada 30 dias, para processamento em São Paulo e, depois, levado para Santa Catarina. No estado da região Sul do país, o material é aproveitado como matéria-prima para a fabricação de molduras, quadros, revestimentos, decks, rodapés, rosetas para portas, dentre outros produtos, comercializados no Brasil e no exterior.
A reciclagem do isopor das marmitas significa benefícios para o meio ambiente, geração de empregos e de ICMS. No aspecto ambiental, o material representa um problema em aterros sanitários, por ocupar muito espaço e ser difícil de compactá-lo. O descarte do isopor nestas áreas prejudica a decomposição de materiais biodegradáveis, reduz o tempo de uso do local e torno o solo instável, podendo gerar acidentes a veículos pesados que circulam nos aterros.
Para o diretor de Trabalho e Produção do Departamento Penitenciário de Minas Gerais, Paulo Duarte, o recolhimento das marmitas representa uma ação importante na gestão de resíduos sólidos no âmbito do Estado, além de empregar mão de obra prisional nas etapas de separação do material e manuseio na primeira etapa de reciclagem, em Ribeirão das Neves. “A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública não tem medido esforços para minimizar os efeitos negativos decorrentes da geração de resíduos sólidos pelo sistema prisional, sempre agindo em consonância com os princípios do desenvolvimento sustentável”, reforça.
O material coletado é proveniente das embalagens de almoço e jantar dos detentos de quatro unidades prisionais: Presídio Inspetor José Martinho Drumond, Centro de Ressocialização José Abranches Gonçalves, Presídio Antônio Dutra Ladeira e Penitenciária José Maria Alkimin. Esses recipientes são feitos de poliestireno expandido (EPS), composto por 98% de ar e 2% de plástico. Apesar de não possuir elementos tóxicos em sua composição, o EPS não apodrece e nem é solúvel em água.
O engenheiro ambiental Pedro Caiafa, diretor da Eco-Lógica, empresa parceria da Sejusp instalada no Presídio Inspetor José Martinho Drumond, alerta sobre o desconhecimento de muitas pessoas em relação à possibilidade de reciclar o poliestireno expandido. Ele ressalta a importância da união de esforços para a preservação do meio ambiente. “A iniciativa privada e o Estado devem caminhar sempre juntos, para não deixar que a geração de resíduos sólidos se torne um problema ambiental”, reflete.
Marmitômetro
O marmitômetro é um índice controlado por Ricardo Nascimento, gerente de produção da Eco-Lógica, em planilhas que fornecem dados como peso, quantidade de marmitas, produção diária, mensal e ainda datas de envio para a Proecologic, sediada em São Paulo. Depois de passar por mais um processo nesta empresa, o material é enviado para Santa Catarina, onde a indústria Santa Luzia Molduras transforma os resíduos de EPS em produtos utilizados em construção e decoração.
Graduado em Gestão Pública e especialista em Educação Ambiental, Ricardo Nascimento foi agente de segurança penitenciário contratado, época na qual desenvolveu projetos de sustentabilidade e educação ambiental em unidades prisionais de Ribeirão das Neves. “Por meio do marmitômetro, é possível ter uma visão detalhada de todos os dados quantitativos relativos à coleta e à reciclagem do EPS, mas é necessário também compreender as variáveis dos gráficos”, explica.
Sustentabilidade
Os trabalhos da Eco-Lógica com o EPS começaram em julho de 2019. Até o final do ano, foram recicladas 29,8 toneladas, o correspondente a 994.812 marmitas. De janeiro a 8 de maio deste ano foram recicladas 27,5 toneladas. Isso significa que, em pouco mais de quatro meses, a produção já está próxima de atingir os resultados obtidos em seis meses de atividades no ano passado.
O processo de reciclagem das marmitas não requer o uso de água para lavar o material. Após a retirada dos restos de comida, o EPS passa pela secagem e é inserido na máquina de densificação, que retira o ar, equivalente a 98% do seu volume, transformando-o em uma massa.
A empresa Eco-Lógica também recebe isopor de açougues, peixarias e restaurantes, além de indústrias diversas, que utilizam o material para proteger equipamentos.
Texto: Bernardo Carneiro
Fotos: Ricardo Nascimento/Divulgação Sejusp