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Duas vezes por mês, o preso Bruno Ferreira empurra um carrinho repleto de livros pelos corredores do Presídio de Itabira. De cela em cela, os volumes passam às mãos dos detentos. Atualmente, são 155 lendo regularmente obras literárias de autores como José Lins do Rego, José Saramago, Adélia Prado e Mário de Andrade. Chama a atenção um grupo de 80 homens que aderiram pelo simples prazer de ler, uma vez que ainda aguardam julgamento. Originalmente, o projeto de leitura foi implantado em meados de 2015 para proporcionar remição (desconto) de pena.

A juíza da Vara de Execuções Criminais da Comarca de Itabira, Cibele Mourão, está entusiasmada com os resultados e aposta na meta de envolver 100% da população carcerária de Itabira.

“A intenção desse projeto não é apenas remir a pena dos sentenciados e, sim, estimular a leitura e proporcionar aos reeducandos oportunidade de aprendizado e lazer. A partir do momento que o detento começa a ler, a extensão de seu mundo é automática. A semente está sendo plantada”, argumentou a magistrada.

Para os condenados, é dada a possibilidade de, a cada mês, reduzir quatro dias na pena a cumprir, desde que leiam um livro, façam uma resenha sobre o conteúdo e obtenham uma nota de no mínimo 70% atribuída por uma banca examinadora. Encontram-se nessa condição, atualmente, 60 detentos de Itabira.

Uma turma de 15 presos selecionados pelo interesse e pelo comportamento disciplinar foi premiada com um programa de leitura especial. Eles têm encontros semanais com a secretária Municipal de Educação, Luciana Maria Ribeiro Santos. A educadora corrige em sala de aula as resenhas dos detentos, lê e discute com eles trechos de obras literárias.

As obras

O sucesso dos livros no ambiente carcerário garantiu um espaço cativo para essa atividade nos projetos de melhorias do Presídio de Itabira. Além de três salas para serviços administrativos e de duas salas de aula, a unidade vai ganhar espaço exclusivo para a biblioteca. Três detentos trabalham nas obras, que ocuparão uma área de 290 m2, com previsão de entrega no fim do semestre. As salas de aula vão acolher 45 presos. Já a biblioteca é tudo que o programa de leitura precisa para crescer.

A diretora Maria do Carmo diz que o funcionamento do segundo endereço da Escola Estadual Dona Eleonora só depende da conclusão da obra. As mesas e cadeiras foram doadas pela iniciativa privada da cidade.

Fotos: Omar Freire

Matéria: Flávia Santana