Trinta e cinco detentos do Complexo Penitenciário de Ponte Nova vão trabalhar para as empresas Construtora Rio Doce e Gaiolas Eldorado enquanto cumprem suas penas. As parcerias foram oficializadas em uma solenidade realizada na última quinta-feira (25.03), na qual representantes das empresas e da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) assinaram os convênios que viabilizam o trabalho dos detentos.

Oito presos já fabricam gaiolas em um estabelecimento dentro da própria unidade. Com a ampliação da parceria, outros 12 serão empregados. O detento Célio Augusto de Almeida, de 30 anos, foi treinado pelos próprios proprietários da Gaiolas Eldorado e agora ajuda a multiplicar o conhecimento entre os colegas. Ele disse que foi fácil aprender e é ainda mais fácil ensinar. Por dia, o detento faz uma média de 60 peças (entre fundos, laterais e frentes de gaiola), que depois são levadas para serem montadas na fábrica que fica fora do presídio. Ele, que trabalhava com a pintura da penitenciária, aponta o duplo benefício da função que está exercendo agora. “O trabalho ajuda na minha ressocialização e vai permitir que eu mande dinheiro para minha família”, conta.

                                     

Os detentos não são os únicos beneficiados com a parceria. Jairo Neves, proprietário da Gaiolas Eldorado, afirma que, com pouco tempo de treino, os presos já estão atingindo marcas de produção semelhantes às dos outros trabalhadores. Ele credita o bom desempenho à grande concentração dos detentos, que não se dispersam durante o trabalho. O resultado positivo não é uma exclusividade do parceiro de Ponte Nova. De acordo com o diretor de Trabalho e Produção da Seds, Helil Bruzadelli, as unidades prisionais de Minas Gerais têm, no total, mais de 250 parceiros que podem oferecer trabalho a quase 7000 detentos. Eles, de modo geral, rendem mais do que os outros trabalhadores, pois não querem perder os benefícios adquiridos, que são três quartos do salário mínimo e remissão de pena (a cada três dias que trabalham, a pena é reduzida em um dia).

A sócia-proprietária da Construtora Rio Doce aponta a responsabilidade social empresarial como um outro motivo pelo qual é interessante às empresas fechar parceria com o Complexo Penitenciário. “Precisamos contribuir, de alguma forma, com a comunidade e vemos na parceria uma boa oportunidade de fazer isso. Não adianta só prender a pessoa, é preciso dar a ela condições de se encaixar na sociedade quando estiver livre”. O convênio firmado com essa empresa garante trabalho a 15 detentos. Eles irão fazer blocos e bloquetes de concreto em um galpão que vai ser montado dentro da unidade. O material feito ali vai ser utilizado na construção de casas populares financiadas pelo governo federal por meio do programa Minha Casa, Minha Vida, uma outra parceria da empresa.

Na opinião do diretor geral do Complexo Penitenciário de Ponte Nova, Rafael Bargas de Queiroz, a assinatura dos convênios é um marco na trajetória da unidade. “Mais do que uma meta, é um sonho ver todos os presos trabalhando e estudando. E parte desse sonho está se concretizando hoje”, diz. No que depender da direção da unidade, o número de parceiros só tende a aumentar. Uma parceria com a indústria de artefatos plásticos Plastnova já está prestes a ser oficializada, oferecendo trabalho, a princípio, a três detentos. Também estão em negociação acordos com a Prefeitura Municipal de Ponte Nova e com o Instituto Estadual de Florestas (IEF).
                                                    

Além dos empregos gerados pelas parcerias, cerca de 40 detentos trabalham dentro da unidade, em atividades de pintura, jardinagem, manutenção e artesanato. A detenta  Elenice da Cruz Santos, de 43 anos, produzia bijuterias antes de ser presa e não pensou que pudesse continuar a atividade na penitenciária. No entanto, encontrou incentivo para o trabalho e duas colegas dispostas a aprender. A mãe da detenta leva os materiais e elas fazem brincos, pulseiras e colares, que também serão vendidos pela mãe da moça. As três colegas de trabalho querem empreender quando saírem da prisão e, mais do que isso, retribuir as oportunidades que estão tendo. “Queremos montar uma confecção e uma fábrica de bijuterias e, com o tempo, buscar mão-de-obra aqui dentro”, planeja Elenice.

                                       

Segundo o diretor de Trabalho e Produção da Seds, a Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) tem o objetivo de oferecer trabalho a 100% dos presos que estão sob sua custódia. Ele lembra que “uma unidade prisional não é só um local de acolhimento de presos, é o lugar de recuperá-los”. O trabalho tem sido uma importante forma de recuperação dos indivíduos privados de liberdade e de sua reinserção na sociedade. Ainda de acordo com Helil Bruzadelli, 72% dos detentos que passaram pelos núcleos de trabalho e produção de suas unidades foram absorvidos pelo mercado quando saíram da prisão.