Um grupo de 25 técnicos das mais diversas áreas da Penitenciária Estevão Pinto, de Belo Horizonte, auxiliados por profissionais da saúde pública, representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Defensoria Pública juntaram-se num mutirão para atender carências das 200 presas do regime fechado. A jornada de dois dias foi concluída nesta sexta-feira, 26.06 e passará a ocorrer a cada dois meses. A iniciativa inova ao superar o esquema convencional de atendimento em que a presa aguarda um lugar na agenda para atendimentos em datas separadas para tratar de um problema de saúde ou de uma oportunidade de trabalhar ou estudar, por exemplo.

Atendimento Jurídico PIEP

Isso por que a privação da liberdade tolhe a iniciativa individual para resolver até pequenos problemas particulares. A pessoa presa, especialmente quando é pobre, passa a depender quase que exclusivamente dos funcionários do presídio. Se o atendimento demora ou é parcial, há inevitavelmente aumento da ansiedade e da tensão no ambiente. Isso pode ser percebido na reação ao mutirão da presa Karinne Cândido, de 40 anos.

“Esperava menos, não achava que a assistência seria tão ampla. Superou minhas expectativas, fui atendida por todos. Só de virmos aqui e ter alguém para nos ouvir já é muito importante. Vestir vermelho é triste, a gente sabe que tem que fazer isso por enquanto, mas se sentir acolhida e atendida é uma parte essencial da ressocialização”.

No primeiro dia do mutirão, 100 presas foram atendidas pelos profissionais. O salão da família foi o local escolhido para receber o evento. Alguns parceiros da unidade deram a sua contribuição, como a Comissão de Assuntos Penitenciários da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o defensor público Adilson da Silva Melo e a equipe do Posto de Saúde da Família (PSF) do bairro Santa Inês, composta por um enfermeiro, um médico e quatro auxiliares de enfermagem.

Atendimento odontológico

Segundo a diretora-geral da penitenciária, Názia Aparecida Rocha, a mesma ação aconteceu no mês de maio, apenas para detentas do regime semiaberto, em que 116 foram atendidas. A diretora explica que a proposta de repetir o mutirão a cada dois meses visa manter uma estabilidade dos atendimentos, que, na opinião dela, são um fator de humanização do aprisionamento e de preparação para a reinserção do preso na sociedade.

“Nós trabalhamos com esse atendimento diferenciado. Não olhamos o artigo do crime de nenhuma delas, porque não estamos aqui para julgar, quem faz isso é o Judiciário. Estamos aqui para possibilitar que elas retornem a sociedade de uma forma melhor de como elas entraram”.

Foi justamente com essa expectativa que a presa Elis Regina Gregório, de 31 anos, se preparou para o mutirão. Ela conta que, ao saber da ação, juntou os documentos e aguardou empolgada.

Presa Elis Regina Gregório

“É bem bacana, está sendo muito favorável para gente. Eu estava cheia de dúvidas e acabei tirando todas e ainda recebi atendimento médico. E o mais gratificante foi saber que em breve vou ter um benefício da Justiça e cumprir minha pena em casa, com a minha família”, diz Elis Regina.

 

 

 

 

Por Fernanda de Paula

 

Crédito fotos: Fernanda de Paula/Ascom Seds