Iniciado há pouco mais de um mês, o projeto de remição de pena pela leitura já beneficiou 27 presos do Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) de Juiz de Fora, na Zona da Mata. Eles conseguiram 60% de aproveitamento nas provas escritas sobre os primeiros dois livros lidos: a Última Pedra, de Rogério Formigoni, e Kairós, do Padre Marcelo Rossi. A cada obra, os detentos obtém redução de quatro dias na pena a cumprir. 

O juiz da Vara de Execuções Criminais da comarca, Daniel Reche da Motta, ficou tão otimista com o programa que fez uma campanha entre os servidores do Fórum para a compra de mais exemplares dos livros para que vários presos pudessem lê-los simultaneamente.

“Quando tive notícias de que outras comarcas no Brasil aderiram à recomendação do CNJ, isso veio de encontro às minhas convicções sobre a força da leitura na transformação do ser humano”, explica Reche.

Para a pedagoga do Ceresp de Juiz de Fora, Daniela Lopes Ferreira, graças ao incentivo da remição de pena, está sendo possível formar novos leitores. “Todos têm levado a sério a leitura e já podemos notar o desejo por novos livros”, destaca.

O preso Rock José de Paiva Souza, 27 anos, confirma a tese da pedagoga. Ele disse que não tinha hábito de ler. Segundo Rock, preso por tráfico de drogas, o programa de remição ofereceu-lhe a oportunidade de romper com a acomodação e encontrar uma nova fonte de conhecimento e reflexão. “A Última Pedra me fez pensar sobre a minha responsabilidade sobre os dependentes de drogas e os resultados devastadores que o vício traz para a vida de famílias inteiras”, confessa o detento.

Despertar

A remição pela leitura no Ceresp-JF serviu também para trazer de volta um antigo devorador de livros, afastado do mundo das letras justamente pela dependência química. Emerson da Silva, de 43 anos de idade, diz que esse passado o tornou uma exceção no meio carcerário, dominado por pessoas de baixa escolaridade.

“Já fui um devorador de livros, mas a dependência ao crack e cocaína destruiu minha capacidade de concentração. Machado de Assis, Platão e Shakespeare já fizeram parte da minha vida”, conta. Por ironia, Rock, foi reencontrar o prazer de ler no personagem principal de A Última Pedra, um jovem dominado pelo vício.


Por Bernardo Carneiro

Crédito fotos: Marcelo Sant'Anna / Imprensa MG