O barbeiro Wanderson Ribeiro Silva, de 38 anos, tinha um sonho. Foi numa conversa com um de seus clientes, coincidentemente um defensor público, que tudo começou a se tornar realidade. O desejo de desenvolver uma ação social para detentos do regime fechado era antigo e voltou à tona durante aquele bate-papo. Wanderson propôs dar aulas de corte de cabelo e barba, de forma voluntária, dentro de uma unidade prisional do Estado.
Na última terça-feira, dia 07 de março, o sonho de Wanderson, enfim, saiu da cabeça. O Salão Escola Hair Cuts foi inaugurado dentro da Penitenciária José Maria Alkmin, em Ribeirão das Neves. O empresário doou mobiliário, equipamentos e material para a criação do salão. As aulas vão começar na próxima semana e terão duração de três meses para cada turma. A subsecretária de Humanização do Atendimento, Emília Castilho, fez questão de lembrar aos detentos que toda oportunidade de capacitação desenvolvida na unidade é uma chance de sair melhor do que entrou. “O curso é uma forma de reintegrá-los à sociedade e isso só é possível se todos tiverem vontade de aprender”, ressaltou.
Quatro presos foram previamente aprovados pela Comissão Técnica de Classificação (CTC), que avalia perfil, pena, comportamento e outros dados dos candidatos. O primeiro a integrar essa lista foi o detento Edgar Borges, de 25 anos. Com previsão de saída em abril deste ano, ele pretende fazer o curso para que, futuramente, possa abrir o próprio negócio em Brumadinho, cidade em que nasceu. “Lá será mais fácil ter clientes”, esclarece Edgar, que já é o barbeiro cadastrado da unidade.
Outros três detentos vão participar das atividades: Carlos Rodrigo, de 29 anos, Marcelo dos Santos, de 35, e Wesley Conrado, de 22. Todos querem aproveitar a chance para obter certificação e iniciar uma carreira profissional. O empresário Wanderson afirma que não é difícil empreender na área da estética e da beleza para o público masculino. Com material de boa qualidade e preços acessíveis, é possível abrir um pequeno salão em casa e garantir uma renda mínima de R$ 2.500,00 mensais. “Em épocas de crise, uma renda dessa é quase o dobro da renda média do brasileiro hoje”, lembra Wanderson. Ao fim do curso, os alunos vão receber um kit com máquina de corte, tesoura, navalha, etc.
E a sorte sorriu para o preso Julimar dos Santos, de 34 anos, durante a cerimônia de inauguração, que contou com a palestra motivacional do Tio Flávio Cultural. O detento foi o escolhido para a demonstração, teve o cabelo cortado por Wanderson e ainda foi um dos sorteados para participar do curso.
Prestigiaram o evento o defensor público Luiz Felipe, responsável pela interlocução com Wanderson, e o diretor-geral da unidade, Reginaldo Soares. A diretora de Atendimento e Humanização, Hélia Nascimento, enfatizou que o Salão Escola é voltado para toda a unidade e espera que mais presos se interessem pelo projeto. “A demonstração que o reeducando quer se reintegrar à sociedade é por meio do estudo e do trabalho”, lembrou empolgada.
Por Pablo Abranches
Crédito fotos: Carlos Alberto Pereira/Imprensa MG