Dezoito presas do regime semiaberto do Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto (Piep), em Belo Horizonte, receberam o diploma de conclusão dos cursos de Cozinha Mineira e Informática. A capacitação de duas semanas, com 20 horas/aula, foi na Associação Mineira de Educação Continuada (Asmec). A ação só foi possível graças à liberação da verba pecuniária da Vara de Execuções Penais da Capital. Além das detentas, outros 16 egressos também participaram dos cursos, incluindo o de Chapista.
O curso de Cozinha Mineira teve como objetivo a valorização da cultura por meio de receitas tradicionais do Estado. As detentas aprenderam a fazer pão de queijo, tábua mineira (mandioca, linguiça e torresmo), broa de fubá, arroz doce e feijão tropeiro. Apesar de serem receitas típicas e comuns, boa parte das custodiadas não sabiam prepará-las. Já a capacitação em Informática abordou o básico da área, como digitação, internet, Word e Excel.
A subsecretária de Humanização do Atendimento, Emília Castilho, esteve no evento e destacou a importância das parcerias para a ressocialização no Sistema Prisional. “A Asmec é uma grande colaboradora, e dependemos muito de ajudas como essa. Isso que elas aprenderam aqui é lindo! Cozinhar é amor, família, carinho, é poder se dedicar a quem a gente gosta. Espero que captem essa oportunidade de crescer, que sejam sementes de vida. Nós, da Secretaria de Estado de Administração Prisional, estamos aqui para proporcionar isso a todos.”
Segundo a diretora da Asmec, Andréa Ferreira, a instituição acredita no potencial do ser humano e tem o papel de dar a essas pessoas, que não tiveram chances, as oportunidades de mudarem destinos. “Para mim, o mais importante é essa ideia de tirar as presas da penitenciária e trazer pra cá. Foi um esforço conjunto de confiança e coragem entre a Seap, a unidade prisional e a Justiça”.
Na cerimônia de formatura, as presas colocaram em prática o que aprenderam. Depois da entrega dos certificados, foi servido um banquete mineiro feito por elas. A oradora da turma, Milani Aparecida Gomes Rocha, de 49 anos, já sabia cozinhar, mas não conhecia nenhuma das receitas. As mais surpreendentes foram a tábua mineira e o preparo do torresmo, que tem várias etapas. Para ela, a confiança recebida de todos os envolvidos durante o curso foi o que mais a motivou.
“Amei ter esse voto de confiança e experimentar, nem que seja por poucas horas, essa sensação de liberdade. O curso foi ótimo! Por mim, eu mim eu continuava. Não imaginava ter todas essas opções em uma cadeia. Na Piep, tive várias oportunidades. Quando entrei, eu só tinha estudado até a metade do ensino fundamental. Lá, completei o ensino médio e fui aprovada em duas faculdades pelo Sisu”, relata Milani.
Além de boa comida, o evento também teve muita emoção. A presa Sara Alves da Silva, de 21 anos, recebeu o diploma das mãos da filha que estava sem vê-la há alguns meses. A comoção foi geral. Sara foi presa quando estava grávida e teve que entregar a criança para a família. O tempo em que pode estar com a filha é pouco. “Foi uma surpresa muito grande, nem sei como explicar. Achei que elas não poderiam vir. É muito bom ter minha família perto de mim nesta conquista”.
Por Fernanda de Paula
Crédito fotos: Frederico Magno